domingo, 19 de agosto de 2012

ESPANHA VERSUS ITÁLIA

Francesco Giavazzi e Charles Wyplosz)

A vertigem de indeterminação que pesa sobra a zona Euro tem sido responsável por inúmeros debates centrados nas diferentes tipologias de problemas de que a situação é composta. Grécia e Portugal, por razões diversas, têm visto desacelerar a sua presença no coração dos debates que a instabilidade da zona Euro tem estimulado. No caso da Grécia, assiste-se a uma certa indiferença de comentadores e analistas, tudo parecendo expectante da posição alemã, mas uma certa opacidade da situação interna grega vai contribuindo para a menor atenção sobre a situação grega. No caso português, a pequena dimensão do país, a relativa cobertura que algumas personalidades alemãs têm concedido ao esforço de ajustamento e a perceção clara existente nos mercados que tudo depende da situação externa com que a economia portuguesa possa contar explicam essa relativa indiferença pelo caso português.
Hoje, com clareza, o foco do debate está no contraponto entre Espanha e Itália, sobretudo pela perceção das implicações que um resgate financeiro nesses países poderia implicar em termos da chamada psicologia do contágio.
Chamo hoje aqui a atenção para um debate curioso entre dois economistas muito conhecidos (Francesco Giavazzi e Charles Wyplosz), travado nas páginas do Voxeu.org, um dos espaços de maior intervenção sobre os rumos que se abrem à zona euro. Wyplosz, pelo menos ele, é muito conhecido entre a grande maioria dos estudantes de macroeconomia em Portugal, sobretudo aqueles que tiveram como manual de suporte o conhecidíssimo Macroeconomics de Burda e Wyplosz.
A posição de Geovazzi é a de defender que a Itália pode e deve evitar o pedido de resgate financeiro a realizar ao EFSF (o atualmente em vigor mecanismo europeu de estabilidade financeira, de modo a dar tempo ao governo não eleito de Monti para preparar uma lei eleitoral à altura das necessidades históricas que o país enfrenta. A ausência de bolha imobiliária, o superavit orçamental primário e as contas externas relativamente equilibradas são apontados como fatores favoráveis para ganhar tempo na ultrapassagem dos problemas que uma dívida pública de 123% do PIB sempre implica, embora maioritariamente detida por cidadãos nacionais (os últimos valores apontam para 34% da dívida pública detida por estrangeiros. A situação é pressionante, pois a Itália necessita de diminuir dívida de médio e longo prazo antes de ser concretizado o resgate bancário a Espanha, já que muito dificilmente os yields da dessa dívida diminuirão até o cenário político de futuro italiano estar clarificado e isso passa necessariamente por eleições.
A posição de Wyplosz parece-me mais avisada. Não está em causa segundo ele as diferenças de situações estruturais que sempre existiram entre as economias sob resgate. A Irlanda não era a Grécia, Portugal nem esta nem a Irlanda e a Espanha muito menos poderia assemelhar-se às primeiras economias que cederam. O que acontece é que o comportamento dos mercados em situações de resgate potencial tende a ser baseado em expectativas que se autoalimentam, segundo um modelo que o senso comum económico designa por efeito de contágio. E aqui a análise de Wyplosz parece-me ser mais apoiada pelas evidências empíricas. Não é necessário estarmos em presença de uma vulnerabilidade global. Basta existir uma simples fonte de vulnerabilidade, como em Itália o peso atual da dívida pública o é, sobretudo em contexto de fracas perspetivas de crescimento económico.
Por isso, avisadamente, Wyplosz defende que a situação só pode ser global para a zona Euro entendida como um problema global. Ou seja, o que este economista pede é uma abordagem da Troika mais recetiva a outros modelos de ajustamento e finalmente a necessidade de quebrar o tabu do BCE, revolucionando os seus estatutos e mandato, assumindo o seu papel de emprestador de última instância a governos e bancos. Caso contrário, haverá sempre uma economia na linha de mira, já que economias sem vulnerabilidades não as há de momento. O Economist desta semana fala da Eslovénia como um candidato potencial e o próprio Wyplosz não descarta que a própria França se aproxime da zona de perigo. Se as condições políticas permitirão essa abordagem global a um problema global e complexo é outra conversa.

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