Francesco Giavazzi e Charles Wyplosz)
A vertigem de indeterminação que pesa sobra a zona Euro
tem sido responsável por inúmeros debates centrados nas diferentes tipologias
de problemas de que a situação é composta. Grécia e Portugal, por razões
diversas, têm visto desacelerar a sua presença no coração dos debates que a
instabilidade da zona Euro tem estimulado. No caso da Grécia, assiste-se a uma
certa indiferença de comentadores e analistas, tudo parecendo expectante da
posição alemã, mas uma certa opacidade da situação interna grega vai contribuindo
para a menor atenção sobre a situação grega. No caso português, a pequena
dimensão do país, a relativa cobertura que algumas personalidades alemãs têm
concedido ao esforço de ajustamento e a perceção clara existente nos mercados
que tudo depende da situação externa com que a economia portuguesa possa contar
explicam essa relativa indiferença pelo caso português.
Hoje, com clareza, o foco do debate está no contraponto
entre Espanha e Itália, sobretudo pela perceção das implicações que um resgate
financeiro nesses países poderia implicar em termos da chamada psicologia do
contágio.
Chamo hoje aqui a atenção para um debate curioso entre
dois economistas muito conhecidos (Francesco Giavazzi e Charles Wyplosz),
travado nas páginas do Voxeu.org, um dos espaços de maior intervenção sobre os
rumos que se abrem à zona euro. Wyplosz, pelo menos ele, é muito conhecido
entre a grande maioria dos estudantes de macroeconomia em Portugal, sobretudo
aqueles que tiveram como manual de suporte o conhecidíssimo Macroeconomics de
Burda e Wyplosz.
A posição de Geovazzi é a de defender que a Itália pode e
deve evitar o pedido de resgate financeiro a realizar ao EFSF (o atualmente em
vigor mecanismo europeu de estabilidade financeira, de modo a dar tempo ao
governo não eleito de Monti para preparar uma lei eleitoral à altura das necessidades
históricas que o país enfrenta. A ausência de bolha imobiliária, o superavit
orçamental primário e as contas externas relativamente equilibradas são
apontados como fatores favoráveis para ganhar tempo na ultrapassagem dos
problemas que uma dívida pública de 123% do PIB sempre implica, embora
maioritariamente detida por cidadãos nacionais (os últimos valores apontam para
34% da dívida pública detida por estrangeiros. A situação é pressionante, pois
a Itália necessita de diminuir dívida de médio e longo prazo antes de ser
concretizado o resgate bancário a Espanha, já que muito dificilmente os yields
da dessa dívida diminuirão até o cenário político de futuro italiano estar
clarificado e isso passa necessariamente por eleições.
A posição de Wyplosz parece-me mais avisada. Não está em
causa segundo ele as diferenças de situações estruturais que sempre existiram
entre as economias sob resgate. A Irlanda não era a Grécia, Portugal nem esta
nem a Irlanda e a Espanha muito menos poderia assemelhar-se às primeiras
economias que cederam. O que acontece é que o comportamento dos mercados em
situações de resgate potencial tende a ser baseado em expectativas que se
autoalimentam, segundo um modelo que o senso comum económico designa por efeito
de contágio. E aqui a análise de Wyplosz parece-me ser mais apoiada pelas evidências
empíricas. Não é necessário estarmos em presença de uma vulnerabilidade global.
Basta existir uma simples fonte de vulnerabilidade, como em Itália o peso atual
da dívida pública o é, sobretudo em contexto de fracas perspetivas de
crescimento económico.
Por isso, avisadamente, Wyplosz defende que a situação só
pode ser global para a zona Euro entendida como um problema global. Ou seja, o
que este economista pede é uma abordagem da Troika mais recetiva a outros
modelos de ajustamento e finalmente a necessidade de quebrar o tabu do BCE,
revolucionando os seus estatutos e mandato, assumindo o seu papel de
emprestador de última instância a governos e bancos. Caso contrário, haverá
sempre uma economia na linha de mira, já que economias sem vulnerabilidades não
as há de momento. O Economist desta
semana fala da Eslovénia como um candidato potencial e o próprio Wyplosz não descarta
que a própria França se aproxime da zona de perigo. Se as condições políticas
permitirão essa abordagem global a um problema global e complexo é outra
conversa.
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