sábado, 18 de agosto de 2012

DEMOGRAFIA E CRESCIMENTO


Os baixos ritmos de crescimento económico observados e estimados para a generalidade das economias mais desenvolvidas justificam o aparecimento de inúmeros artigos sobre as razões que explicam a referida debilidade do crescimento.
É o caso de um artigo de Nathan Sheets e Robert Sockin comentado e desenvolvido no FT Alphaville por Kate Mackenzie que procura diferenciar os ritmos de crescimento entre os Estados Unidos, o Japão e a zona euro com base na decomposição do crescimento do produto interno bruto per capita e tendo como referência o período 1991-2011.
A técnica de decomposição é simples, representando o produto interno bruto per capita como o produto de quatro variáveis: produtividade do fator trabalho; taxa de emprego; taxa de participação; peso da população em idade ativa:
(PIB/N) = (PIB/L) x (L/Na) x (Na/N15-64) x (N15-64/N)
Em que PIB=Produto interno bruto; L=emprego (medido por um indicador de horas agregadas); Na = população ativa; N = população; N15-64 = População em idade ativa.
Esta técnica de decomposição é sugestiva na medida em que a taxa de crescimento do produto per capita é igual a um somatório de quatro taxas de crescimento: da produtividade, da taxa de emprego, da taxa de participação e do peso da população em idade ativa. É-o também na medida em que combina fatores tecnológicos e organizacionais (a produtividade), de performance do mercado de trabalho (taxa de emprego), socio-culturais (taxa de participação) e demográficos (peso da população em idade ativa). Tem obviamente a limitação de se basear exclusivamente numa abordagem de oferta.
Os resultados obtidos apresentam algumas curiosidades.
O comportamento da produtividade (por horas de trabalho globais) evidencia que os três blocos económicos revelam uma progressão assinalável, com um crescimento entre 30 a 40% em 20 anos. É visível o diferencial penalizador para a zona euro, sobretudo a partir do início dos anos 2000.
A segunda variável (taxa de emprego) evidencia uma forte convergência entre os três blocos, sendo assinalável a quebra observada nos Estados Unidos.
Porém, em termos de horas trabalhadas, a evolução ilustrada pelo gráfico abaixo é surpreendente, sobretudo do ponto de vista da comparação entre o decréscimo de horas trabalhadas no Japão e o incremento nos Estados Unidos e na zona Euro.
Já a taxa de participação da força de trabalho apresenta um comportamento bem diferenciado, com a zona euro e o Japão a apresentarem um ritmo de crescimento assinalável desta variável. A queda da taxa de participação nos Estados Unidos deve-se essencialmente à estabilização continuada da taxa de participação feminina, que contrasta com a subida também continuada no Japão e na zona Euro.

A influência das condições demográficas é sobretudo visível nos Estados Unidos que durante as duas décadas em questão apresentaram, até 2005, um crescimento regular do peso da população em idade ativa, bem acima da zona Euro e do Japão (com queda de 10% em 20 anos). Esta realidade demográfica do Japão explica as suas elevadas taxas de participação dos trabalhadores idosos. Mas tudo indica que nas próximas décadas haverá uma convergência demográfica entre os três blocos com quedas apreciáveis nos Estados Unidos e na zona Euro e confirmação do problema demográfico japonês.

Em conclusão, as variáveis demográficas tenderão a pesar fortemente nas equações do crescimento económico dos três blocos económicos analisados. As conclusões de Sheets e Sockin são porém algo otimistas, estimando que o agravamento das condições demográficas será responsável, em média, pela queda de 1 ponto percentual ao ano para um cenário de crescimento do produto per capita que evoluirá entre 0,5 e 1,5%. De qualquer modo, a questão demográfica volta paradoxalmente a assumir uma relevância nas condições de crescimento que não esperaríamos. Mas desta vez não serão as questões do excesso demográfico a pesar nas nossas reflexões. Será antes a penúria demográfica a comandar, pelo menos nas economias mais desenvolvidas. Daí que a dimensão da globalização associada aos movimentos de pessoas tenderá a ganhar forte relevo.

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