Os baixos ritmos de crescimento económico observados e
estimados para a generalidade das economias mais desenvolvidas justificam o
aparecimento de inúmeros artigos sobre as razões que explicam a referida
debilidade do crescimento.
É o caso de um artigo de Nathan Sheets e Robert Sockin comentado e desenvolvido no FT Alphaville por Kate Mackenzie que procura
diferenciar os ritmos de crescimento entre os Estados Unidos, o Japão e a zona
euro com base na decomposição do crescimento do produto interno bruto per
capita e tendo como referência o período 1991-2011.
A técnica de decomposição é simples, representando o
produto interno bruto per capita como o produto de quatro variáveis:
produtividade do fator trabalho; taxa de emprego; taxa de participação; peso da
população em idade ativa:
(PIB/N) = (PIB/L) x (L/Na) x (Na/N15-64) x (N15-64/N)
Em que PIB=Produto interno bruto; L=emprego (medido por
um indicador de horas agregadas); Na = população ativa; N = população; N15-64 =
População em idade ativa.
Esta técnica de decomposição é sugestiva na medida em que
a taxa de crescimento do produto per
capita é igual a um somatório de quatro taxas de crescimento: da produtividade,
da taxa de emprego, da taxa de participação e do peso da população em idade
ativa. É-o também na medida em que combina fatores tecnológicos e
organizacionais (a produtividade), de performance do mercado de trabalho (taxa
de emprego), socio-culturais (taxa de participação) e demográficos (peso da
população em idade ativa). Tem obviamente a limitação de se basear
exclusivamente numa abordagem de oferta.
Os resultados obtidos apresentam algumas curiosidades.
O comportamento da produtividade (por horas de trabalho globais)
evidencia que os três blocos económicos revelam uma progressão assinalável, com
um crescimento entre 30 a 40% em 20 anos. É visível o diferencial penalizador
para a zona euro, sobretudo a partir do início dos anos 2000.
A segunda variável (taxa de emprego) evidencia uma forte
convergência entre os três blocos, sendo assinalável a quebra observada nos
Estados Unidos.
Porém, em termos de horas trabalhadas, a evolução
ilustrada pelo gráfico abaixo é surpreendente, sobretudo do ponto de vista da
comparação entre o decréscimo de horas trabalhadas no Japão e o incremento nos
Estados Unidos e na zona Euro.
Já a taxa de participação da força de trabalho apresenta
um comportamento bem diferenciado, com a zona euro e o Japão a apresentarem um ritmo
de crescimento assinalável desta variável. A queda da taxa de participação nos
Estados Unidos deve-se essencialmente à estabilização continuada da taxa de
participação feminina, que contrasta com a subida também continuada no Japão e
na zona Euro.
A influência das condições demográficas é sobretudo visível
nos Estados Unidos que durante as duas décadas em questão apresentaram, até
2005, um crescimento regular do peso da população em idade ativa, bem acima da
zona Euro e do Japão (com queda de 10% em 20 anos). Esta realidade demográfica
do Japão explica as suas elevadas taxas de participação dos trabalhadores
idosos. Mas tudo indica que nas próximas décadas haverá uma convergência demográfica
entre os três blocos com quedas apreciáveis nos Estados Unidos e na zona Euro e
confirmação do problema demográfico japonês.
Em conclusão, as variáveis demográficas tenderão a pesar
fortemente nas equações do crescimento económico dos três blocos económicos
analisados. As conclusões de Sheets e Sockin são porém algo otimistas,
estimando que o agravamento das condições demográficas será responsável, em média,
pela queda de 1 ponto percentual ao ano para um cenário de crescimento do
produto per capita que evoluirá entre 0,5 e 1,5%. De qualquer modo, a questão
demográfica volta paradoxalmente a assumir uma relevância nas condições de
crescimento que não esperaríamos. Mas desta vez não serão as questões do
excesso demográfico a pesar nas nossas reflexões. Será antes a penúria demográfica
a comandar, pelo menos nas economias mais desenvolvidas. Daí que a dimensão da
globalização associada aos movimentos de pessoas tenderá a ganhar forte relevo.
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