Admiro a persistência e a convicção de Frederico Lucas na
sua tenaz condução do projeto “Os novos povoadores” através do qual tem
procurado apoios sistemáticos à instalação de casais jovens em concelhos do
interior Norte e Centro, neste caso publicitado pelo Público de hoje nos
concelhos de Alfândega da Fé e em Trancoso.
Lucas é um agente nato do desenvolvimento local que
exemplifica e persiste na sua campanha de sensibilização e sedução de casais
jovens, desafiando-os a procurar outros padrões de qualidade de vida que as
grandes aglomerações metropolitanas hoje não conseguem oferecer. Ou melhor, não
conseguem oferecer às classes médias e mais desfavorecidas, já que aos altos
escalões de rendimento essas aglomerações conseguem de facto oferecer
verdadeiros oásis. Toda a gente ainda se recorda da prática seguida pelo Engº
Jardim Gonçalves se deslocar para as instalações do BCP na baixa a partir da
sua periferia de luxo, algures na aglomeração metropolitana de Lisboa.
O conceito de atração subjacente do projeto Novos
Povoadores está estruturado nas baixas condições de qualidade de vida que essas
aglomerações urbanas proporcionam, fazendo assim baixar o custo de oportunidade
de procura de uma alternativa mais amigável de vida nos territórios do
interior. Complementarmente, as novas infraestruturas de telecomunicações (a infoestrutura) proporcionam
novas condições de trabalho à distância que potenciariam novas alternativas de
ocupação e de atividade nesses territórios interiores.
Os resultados do projeto (confirmados pelo próprio Lucas)
sugerem que a bondade desta fundamentação está longe de ser confirmada pela
realidade dos territórios.
Na sequência de um trabalho profissional centrado no tema
da atração de novos residentes aos territórios do Corredor Azul alentejano (de
Sines a Elvas, passando por Vendas Novas, Montemor-o-Novo e Évora, tenho
desenvolvido alguma reflexão sobre o tema, que penso explicar as dificuldades
experimentadas pelo projeto dos Novos Povoadores.
Em primeiro lugar, a atração de residentes aos territórios
de mais baixa densidade que dela carecem para assegurar a sua sustentabilidade
a prazo, embora possa ser focada nas questões do diferencial de qualidade de
vida, não pode deixar de ser cruzada com a questão dos públicos a atrair. E
neste âmbito os jovens casais não são necessariamente o público mais propenso a
essa mudança. Nas condições atuais, há um público imenso como os reformados
precoces, os desvinculados por acordo, os reformados efetivos, as famílias e os
indivíduos focados em projetos de mudança de vida, os desempregados
qualificados que são sensíveis a um conjunto particular de atributos de
qualidade de vida. Pode dizer-se que a duração da vida justifica que os casais
jovens sejam públicos mais sustentáveis. Mas com o aumento sensível de
esperança de vida à nascença, aquele público atrás referido pode garantir uma
presença ativa nesses territórios de, pelo menos, vinte anos, o que não será
despiciendo.
Depois, a decisão de mudança não depende apenas do cada vez
mais baixo custo de oportunidade das condições de vida nas aglomerações
metropolitanas. Não podemos ignorar a força das perceções quanto aos territórios
de destino. E aqui há que convir que os territórios de que estamos a falar tudo
têm feito para atomizar essa perceção, muitas vezes com campanhas de comunicação
contraditórias e incoerentes entre si. Na reportagem do Público de hoje, a
Presidente da Câmara Municipal de Alfândega da Fé insiste de que só tem para
oferecer qualidade de vida. Ora, a perceção dessa qualidade de vida depende
fortemente dos públicos. E não esqueçamos que o homem é um ser urbano. Como dizia
alguém que se me varreu na memória é no meio de uma multidão na pirâmide do
Louvre que tenho a perceção plena da liberdade.
Como é óbvio, nos públicos em que o projeto Novos
Povoadores está focado, os casais jovens, o tema da empregabilidade é crucial
como fator de atração. Por isso, considero que para ganhar alguma dinâmica na
estratégia de atração de novos residentes a focagem apenas nesse público é extremamente
arriscada. Haveria vantagem em diversificar esse foco.
Das minhas andanças profissionais por este tema em Trás-os-Montes
e no Alentejo (esta última região com um forte diferencial positivo no estilo
de qualidade de vida que pode oferecer), tenho recolhido imensos casos de atração
por esses territórios. Mas por detrás dessa motivação, encontramos sempre uma
situação familiar ou afetiva, uma ligação a uma atividade de família que se
recupera em segunda ou terceira geração e muito raramente uma atração ex-novo. Não
será certamente por acaso.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro António,
ResponderEliminarQuero agradecer-lhe as simpáticas palavras que me dedicou, bem como a objectividade do seu comentário.
A questão do target é bastante sensível para nós: entre os 35 e os 55 anos.
Já adquiriram experiência profissional e existe o interesse em criar novos projectos.
Creio que saberá que o corredor azul esteve para ser o ponto de partida da nossa iniciativa, periodo em que eu vivi em Évora.
Coloco-me à disposição para responder a outras questões que possam ajudar a uma reflexão sobre o tema.
Um abraço
Frederico