sexta-feira, 3 de agosto de 2012

TEMAS UM POUCO SILLY PARA UMA ESTAÇÃO AINDA NÃO TOTALMENTE SILLY


A alma nacional precisaria de alguns resultados olímpicos para massajar a dor, mas os nossos principais atletas teimam em fazer no contexto dos jogos prestações abaixo dos seus máximos, algumas das quais significativamente abaixo.
Neste caso, não se trata necessariamente do efeito “slack” que aqui referi em post anterior: o gap que existe entre o esforço psicológico que foi necessário para atingir a superação do nosso tempo e o esforço que no contexto atual estamos dispostos a fazer. Penso que se trata antes pelo contrário da enorme importância do contexto olímpico, bem superior a um campeonato mundial ou europeu de uma dada especialidade. O convívio e a proximidade com os grandes de todas as modalidades e não apenas da nossa intimida os menos acostumados a pressões deste tipo. O contexto em que nos é pedida a performance interessa e o caso português bem o evidencia.
Tivemos de tudo. O síndroma do primeiro combate varreu o judo. Todos perderam no primeiro, matando por isso a hipótese de repescagem. No atletismo, o efeito do primeiro salto matou Patrícia Mamona. Um bom salto inicial, mas que se revelou incapaz de ser superado e cinco centímetros apenas afastaram-na da final. Marco Fortes mostra que o peso psicologicamente pesa e de novo esteve abaixo do seu 6º lugar no ranking mundial. Uma queda ainda nos 3000 metros obstáculos. Diversidade de situações na vela e o resultado mais promissor veio do remo, o que mostra a valia do efeito surpresa e a passagem à final foi assegurada com uma manobra tática, surpreendendo adversários (arrancando forte de início contra a sua prática de arrancar apenas no percurso final.
A outro nível, a cultura (mas não só) está ao rubro com a publicação da avaliação (?) das fundações, numa espécie de antecâmara de decisões de encerramento ou de redução de apoios públicos.
O secretário de Estado Hélder Rosalino surge triunfante clamando vitória pelo facto de pela primeira vez os portugueses poderem ter uma radiografia do tecido fundacional e lembrando que se há erros detetados isso se deve ao facto da informação enviada pelas próprias fundações os conter. Não questiono.
E a posição crítica sobre isto não pode deixar de ser de perplexidade. Pelos valores envolvidos nos apoios públicos não se trata de coisa pouca. O que espanta é que ao longo destes anos todos o Estado não quis fazer ideia do panorama geral desses apoios. Não necessitou de uma visão global do tecido fundacional e dos apoios públicos proporcionados, nem sequer do impacto ou alcance social dessa intervenção. Não se interessou pela repartição territorial desses apoios e pedir equidade territorial nestas coisas parece não ser pedir muito, já que será de presumir que, nas zonas mais densas e concentradas do território (como as aglomerações metropolitanas de Lisboa e do Porto), as fundações existentes tenham maior capacidade de mecenato privado.
Uma muito baixa “accountability” da aplicação de dinheiros públicos. Que discussão política e nacional precedeu a aposta pública tão desmesurada na Fundação Magalhães (não, não é a perseguição a Sócrates)? Que escolhas foram consideradas no apoio à Fundação Berardo?
Em meu entender, a multiplicação das fundações não é mais do que engenharia institucional à solta, começando por ser o próprio Estado a praticar essa engenharia em busca de condições mais recatadas de “accountability” na aplicação de dinheiros públicos.
Por definição, uma fundação exige um capital fundacional e se ele não existir à partida tudo a partir daí é postiço, maleabilidade jurídica, certamente em muitos casos “tripa forra” e campo para o grande favor ou simplesmente favorzinho, político claro está.
É ridículo, mas não há outra palavra para descrever a situação, que o Estado construa uma base de dados a partir das próprias declarações das fundações. Isso significa em que condições de rigor foram concedidos os apoios que agora algumas das fundações interessadas começam a ver perigosamente a afastar-se. Nenhuma ideia à partida do serviço público que foi completada pela ação da fundação X ou Y. Informação nula quanto ao alcance e impacto do serviço publicamente apoiado.
Ou eu me engano ou uma análise mais fina das situações agora conhecidas irá proporcionar surpresas que não nos deveriam surpreender mas que o farão por certo.

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