A alma nacional precisaria de alguns resultados olímpicos
para massajar a dor, mas os nossos principais atletas teimam em fazer no
contexto dos jogos prestações abaixo dos seus máximos, algumas das quais
significativamente abaixo.
Neste caso, não se trata necessariamente do efeito “slack”
que aqui referi em post anterior: o gap
que existe entre o esforço psicológico que foi necessário para atingir a
superação do nosso tempo e o esforço que no contexto atual estamos dispostos a
fazer. Penso que se trata antes pelo contrário da enorme importância do
contexto olímpico, bem superior a um campeonato mundial ou europeu de uma dada
especialidade. O convívio e a proximidade com os grandes de todas as
modalidades e não apenas da nossa intimida os menos acostumados a pressões
deste tipo. O contexto em que nos é pedida a performance interessa e o caso
português bem o evidencia.
Tivemos de tudo. O síndroma do primeiro combate varreu o
judo. Todos perderam no primeiro, matando por isso a hipótese de repescagem. No
atletismo, o efeito do primeiro salto matou Patrícia Mamona. Um bom salto inicial,
mas que se revelou incapaz de ser superado e cinco centímetros apenas afastaram-na
da final. Marco Fortes mostra que o peso psicologicamente pesa e de novo esteve
abaixo do seu 6º lugar no ranking mundial. Uma queda ainda nos 3000 metros obstáculos.
Diversidade de situações na vela e o resultado mais promissor veio do remo, o
que mostra a valia do efeito surpresa e a passagem à final foi assegurada com
uma manobra tática, surpreendendo adversários (arrancando forte de início
contra a sua prática de arrancar apenas no percurso final.
A outro nível, a cultura (mas não só) está ao rubro com a
publicação da avaliação (?) das fundações, numa espécie de antecâmara de decisões
de encerramento ou de redução de apoios públicos.
O secretário de Estado Hélder Rosalino surge triunfante
clamando vitória pelo facto de pela primeira vez os portugueses poderem ter uma
radiografia do tecido fundacional e lembrando que se há erros detetados isso se
deve ao facto da informação enviada pelas próprias fundações os conter. Não
questiono.
E a posição crítica sobre isto não pode deixar de ser de
perplexidade. Pelos valores envolvidos nos apoios públicos não se trata de
coisa pouca. O que espanta é que ao longo destes anos todos o Estado não quis
fazer ideia do panorama geral desses apoios. Não necessitou de uma visão global
do tecido fundacional e dos apoios públicos proporcionados, nem sequer do impacto
ou alcance social dessa intervenção. Não se interessou pela repartição
territorial desses apoios e pedir equidade territorial nestas coisas parece não
ser pedir muito, já que será de presumir que, nas zonas mais densas e
concentradas do território (como as aglomerações metropolitanas de Lisboa e do
Porto), as fundações existentes tenham maior capacidade de mecenato privado.
Uma muito baixa “accountability”
da aplicação de dinheiros públicos. Que discussão política e nacional precedeu
a aposta pública tão desmesurada na Fundação Magalhães (não, não é a perseguição
a Sócrates)? Que escolhas foram consideradas no apoio à Fundação Berardo?
Em meu entender, a multiplicação das fundações não é mais
do que engenharia institucional à solta, começando por ser o próprio Estado a
praticar essa engenharia em busca de condições mais recatadas de “accountability” na aplicação de
dinheiros públicos.
Por definição, uma fundação exige um capital fundacional
e se ele não existir à partida tudo a partir daí é postiço, maleabilidade jurídica,
certamente em muitos casos “tripa forra” e campo para o grande favor ou
simplesmente favorzinho, político claro está.
É ridículo, mas não há outra palavra para descrever a
situação, que o Estado construa uma base de dados a partir das próprias
declarações das fundações. Isso significa em que condições de rigor foram
concedidos os apoios que agora algumas das fundações interessadas começam a ver
perigosamente a afastar-se. Nenhuma ideia à partida do serviço público que foi
completada pela ação da fundação X ou Y. Informação nula quanto ao alcance e
impacto do serviço publicamente apoiado.
Ou eu me engano ou uma análise mais fina das situações
agora conhecidas irá proporcionar surpresas que não nos deveriam surpreender
mas que o farão por certo.
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