quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A FRATURA (EUROPEIA) DO DESEMPREGO


A publicação pelo EUROSTAT dos dados do desemprego na UE27 e na zona euro põe em evidência uma nova fratura intra-europeia (a 27 ou na zona euro), configurada pela distribuição entre países da massa de desempregados e da taxa de desemprego.
Aquilo que poderíamos designar de fratura no interior de uma tragédia, plasmada no valor ligeiramente superior a 25 milhões de desempregados na UE e de 17 milhões e oitocentos mil na zona euro.
No caso da União Europeia, a fratura é visível no gráfico acima entre os que apresentam taxas de desemprego abaixo e acima da média europeia dos 10,4% (superior na zona euro e igual a 11,2%). Portugal, Espanha e Grécia destacam-se pela negativa como símbolos da referida fratura, acentuando a tensão norte-sul nessa matéria. A Estónia e a Eslováquia complicam essa associação à questão norte-sul. Mas se considerarmos a presença da Irlanda, não podemos deixar de evidenciar a correlação existente entre essa fratura do desemprego e a situação das economias sob resgate, efetivamente ou em risco de o suportar.
O gráfico abaixo, que descreve a evolução ao longo do tempo da massa de desempregados, é também eloquente. A partir do 1º trimestre de 2008, é visível a galopada do desemprego, sendo também visível como a ilusão da recuperação se desvanece no segundo trimestre de 2011.
Tal como tenho vindo a insistir, a evolução da massa de desemprego não reflete apenas o prolongamento anómalo de uma grande recessão. Anómalo, dada a miopia da abordagem com que o pensamento económico dominante se tem confrontado com essa recessão. Mas anómalo também porque já não se trata de uma longa conjuntura desfavorável. Estamos perante a fase descendente de um ciclo longo e sempre que isto acontece a turbulência na economia é estrutural e por isso implacável.
A utilização do termo turbulência não é inocente. É o termo utilizado por economistas como Francisco Louçã para descrever as crises que coexistem com mudanças de paradigma de ciclo longo. Mas, neste caso, quando economistas, por mais brilhantes que sejam, combinam a atividade científica (de valia internacional inequívoca) com a intervenção política, os limites e os condicionantes desta última tendem a penalizar senão a inibir a atividade científica. De facto, não é simples transmitir a militantes a mensagem de que o desemprego, enquanto as fontes motoras de um novo ciclo de longo prazo para as economias de mercado não emergirem, dificilmente poderá voltar aos níveis do 1º trimestre de 2008.

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