A publicação pelo EUROSTAT dos dados do desemprego na UE27 e na zona euro põe em evidência uma nova fratura intra-europeia (a 27 ou
na zona euro), configurada pela distribuição entre países da massa de
desempregados e da taxa de desemprego.
Aquilo que poderíamos designar de fratura no interior de
uma tragédia, plasmada no valor ligeiramente superior a 25 milhões de
desempregados na UE e de 17 milhões e oitocentos mil na zona euro.
No caso da União Europeia, a fratura é visível no gráfico
acima entre os que apresentam taxas de desemprego abaixo e acima da média
europeia dos 10,4% (superior na zona euro e igual a 11,2%). Portugal, Espanha e
Grécia destacam-se pela negativa como símbolos da referida fratura, acentuando
a tensão norte-sul nessa matéria. A Estónia e a Eslováquia complicam essa
associação à questão norte-sul. Mas se considerarmos a presença da Irlanda, não
podemos deixar de evidenciar a correlação existente entre essa fratura do
desemprego e a situação das economias sob resgate, efetivamente ou em risco de
o suportar.
O gráfico abaixo, que descreve a evolução ao longo do
tempo da massa de desempregados, é também eloquente. A partir do 1º trimestre de
2008, é visível a galopada do desemprego, sendo também visível como a ilusão da
recuperação se desvanece no segundo trimestre de 2011.
Tal como tenho vindo a insistir, a evolução da massa de desemprego
não reflete apenas o prolongamento anómalo de uma grande recessão. Anómalo,
dada a miopia da abordagem com que o pensamento económico dominante se tem
confrontado com essa recessão. Mas anómalo também porque já não se trata de uma
longa conjuntura desfavorável. Estamos perante a fase descendente de um ciclo
longo e sempre que isto acontece a turbulência na economia é estrutural e por
isso implacável.
A utilização do termo turbulência não é inocente. É o
termo utilizado por economistas como Francisco Louçã para descrever as crises
que coexistem com mudanças de paradigma de ciclo longo. Mas, neste caso, quando
economistas, por mais brilhantes que sejam, combinam a atividade científica (de
valia internacional inequívoca) com a intervenção política, os limites e os
condicionantes desta última tendem a penalizar senão a inibir a atividade científica.
De facto, não é simples transmitir a militantes a mensagem de que o desemprego,
enquanto as fontes motoras de um novo ciclo de longo prazo para as economias de
mercado não emergirem, dificilmente poderá voltar aos níveis do 1º trimestre de
2008.
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