domingo, 5 de agosto de 2012

MIQUEL ROCA

(Joan Sanchéz - El País)

Mais alguns dias em Seixas, num país dividido ao meio pela temperatura, é altura para prestar mais atenção à situação espanhola.
Apesar do seu retiro para férias na Galiza, Rajoy prepara a situação para o pedido de resgate nas melhores condições possíveis viabilizador do apoio dos mecanismos europeus de estabilidade financeira. As condições em que o resgate será obtido no próximo outono não são indiferentes a um governo fortemente desgastado por uma trajetória de governação que o PP estaria longe de poder antecipar. Para tal, o governo espanhol vai antecipando alguns traços do programa orçamental para 2013 e 2014 com a conversa já conhecida: cortes e mais cortes, correção da idade de reforma, suscitando a suspeição e não teremos aqui de novo o espectro do aproveitamento do ditame externo para impor um modelo social caro ao PP.
Entretanto, o El País inicia hoje um sugestivo conjuntode artigos designados de “Catedráticos do Público”, nos quais alguns senhores da política  espanhola procuram defender a ação política contra o desencanto atualmente enraizado na sociedade espanhola. 90% dos inquiridos numa recente consulta sobre o nível de satisfação face à atuação das forças políticas na atual crise consideram que os partidos devem mudar profundamente a sua maneira de agir, sobretudo a sua capacidade de acolher o pensamento da sociedade espanhola.
Miquel Roca, também um dos pais da constituição espanhola, tem um testemunho particularmente vivo sobre o clima atual de desencanto, referindo-se à presente influência da Constituição que ajudou a construir nos seguintes termos:
“Foi despojada da sensibilidade que foi concebida e hoje não é mais do que um frio texto. Deixámos pelo caminho o valor da liberdade, da paz e acabámos por querer ganhar nos tribunais o que não se ganhava nas urnas. Quem diga que nada mudou ou é um inculto, um demagogo ou um irresponsável. Onde estão todos esses valentes que hoje criticam a transição? Ela não acabou, continuaremos a viver permanentemente a transição”.
Mais adiante, na sua qualidade de europeísta, é particularmente crítico da posição alemã:
“Temos de falar duramente aos alemães e recordar-lhes a história, sem que se ofendam: fizeram-nos passar por duas guerras mundiais que destroçaram a Europa e o Mediterrâneo foi solidário com eles. Que não nos deem agora lições. A Europa é a nossa grande oportunidade.”
Continuo a sustentar que a democracia europeia está presa pela memória destes homens. A sua valorização para viabilizar a transmissão de um testemunho que não está ainda garantida deveria mobilizar-nos a todos.

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