Tudo parece recomeçar à medida que setembro se aproxima. A
presidência do BCE e a presidência do Bundesbank continuam a esgrimir posições,
numa tensão contida. Em imagens de arquivo que passaram esta semana nas televisões,
uma câmara indiscreta, não tão indiscreta como a da TVI em Bruxelas na captação
do célebre diálogo entre Vítor Gaspar e o ministro das Finanças alemão Schäuble, apanhou uma troca furtiva de palavras e de olhares
entre Draghi e Weidemann que é bem reveladora da tensão contida neste momento
instalada nas questões da zona euro.
Draghi inventou uma saída que é justificar a utilização de
medidas excecionais para manter a estabilidade dos preços e assim permanecer formalmente
fiel ao mandato estatutário do BCE. Esse mandato não impediria a utilização de
medidas menos ortodoxas de política monetária. Os mercados parecem começar a
acolher esta possibilidade, pelo menos no que respeita à posição da Itália.
Weidemann, pelo contrário, insiste na tese de que a
compra de títulos da dívida pública de países pode corporizar uma espécie de “bond addiction”,
por outras palavras, de viciar as economias em dificuldades no endividamento e
no financiamento fácil desse vício aparente. A sua oposição ao processo vem
essencialmente da perspetiva de que as tais soluções não ortodoxas de política
monetária pisam o risco do financiamento direto aos Estados através da emissão
monetária.
Se nos mantivermos na metáfora do “bond addiction”, a
posição alemã equivale a fazer os viciados passar por uma cura de abstinência
de grande crueldade. A abordagem de Draghi equivale a um tratamento mais
incremental com uso de metadona. Ambos os tratamentos, o de Draghi mesmo assim
mais esperançoso, não equacionam o problema da patologia ou representam-no
erradamente. Nem toda a problemática da zona euro resulta, como sabemos, de um
viciamento em endividamento.
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