quinta-feira, 30 de agosto de 2012

DRAGHI VERSUS WEIDMANN



Tudo parece recomeçar à medida que setembro se aproxima. A presidência do BCE e a presidência do Bundesbank continuam a esgrimir posições, numa tensão contida. Em imagens de arquivo que passaram esta semana nas televisões, uma câmara indiscreta, não tão indiscreta como a da TVI em Bruxelas na captação do célebre diálogo entre Vítor Gaspar e o ministro das Finanças alemão Schäuble, apanhou uma troca furtiva de palavras e de olhares entre Draghi e Weidemann que é bem reveladora da tensão contida neste momento instalada nas questões da zona euro.
Draghi inventou uma saída que é justificar a utilização de medidas excecionais para manter a estabilidade dos preços e assim permanecer formalmente fiel ao mandato estatutário do BCE. Esse mandato não impediria a utilização de medidas menos ortodoxas de política monetária. Os mercados parecem começar a acolher esta possibilidade, pelo menos no que respeita à posição da Itália.
Weidemann, pelo contrário, insiste na tese de que a compra de títulos da dívida pública de países pode corporizar uma espécie de “bond addiction”, por outras palavras, de viciar as economias em dificuldades no endividamento e no financiamento fácil desse vício aparente. A sua oposição ao processo vem essencialmente da perspetiva de que as tais soluções não ortodoxas de política monetária pisam o risco do financiamento direto aos Estados através da emissão monetária.
Se nos mantivermos na metáfora do “bond addiction”, a posição alemã equivale a fazer os viciados passar por uma cura de abstinência de grande crueldade. A abordagem de Draghi equivale a um tratamento mais incremental com uso de metadona. Ambos os tratamentos, o de Draghi mesmo assim mais esperançoso, não equacionam o problema da patologia ou representam-no erradamente. Nem toda a problemática da zona euro resulta, como sabemos, de um viciamento em endividamento.

Sem comentários:

Enviar um comentário