sábado, 29 de julho de 2017

AS SETE GRANDES QUESTÕES DA ECONOMIA MUNDIAL SEGUNDO MARTIN WOLF




(Alinhe-se ou não com as suas interpretações, Martin Wolf é seguramente um dos grandes estudiosos da globalização, sendo particularmente marcante o modo como evoluiu a sua própria leitura sobre os rumos indevidos da dita …)

Martin Wolf é das tais vozes que não podem ser ignoradas para compreendermos o que se vai passando à nossa volta em termos do mundo económico em que estamos irreversivelmente integrados. Do “Why Globalization Works” de 2004 ao “The Shifts and the Shocks – what we’ve learned and have still to learn from the financial crisis” de 2014, Wolf alicerçou uma reputação que vai muito para além de um simples ideólogo favorável às forças da globalização.

O seu artigo de meados de julho (link aqui) pode ser entendido como uma perspetiva dos rumos da globalização do ponto de vista dos desafios que eles colocam ao ocidente e às suas nações mais avançadas. Em sete gráficos, Wolf coloca-nos perante uma leitura da globalização do ponto de vista dos desafios que as democracias ocidentais devem superar. E, como veremos, trata-se de sete questões que podemos considerar irredutivelmente relevantes, pelo que é intrigante não haver uma estratégia de ação para o combate a esses desafios.

O primeiro gráfico que encabeça este post coloca-nos perante a força emergente dos asiáticos em termos de geração do produto mundial. Os números do gráfico são assustadores: à paridade do poder de compra, os países de rendimento elevado, concentrados a ocidente, passarão de 1990 a 2022 de 64 para 39% do produto mundial. A asiaficação da economia mundial mede-se pela passagem de 12% a 21% do produto mundial. Como é óbvio, a China ofusca o que poderia ser considerado uma convergência desejável. A Índia mostra-se mas não ao nível dos chineses.


O segundo gráfico mexe com o que na terminologia económica é conhecido por “savings glut”. Os asiáticos poupam e financiam o investimento a ocidente. Como refere Wolf, a China poupa quase tanto como os EUA e a Europa juntos. É necessariamente um problema? Não, depende dos termos em que a mobilização dessa poupança é realizada, penitenciando ou oferecendo oportunidades de investimento que reflitam os interesses de quem acolhe o investimento e não de quem o financia. Como é óbvio, a questão não é a mesma consoante se trata de uma economia pequena ou de um colosso. Os portugueses irão conhecer o problema nos próximos tempos.


O terceiro gráfico é coisa que bem conhecemos, os trends demográficos. Não somos ainda uma sociedade organizada para o envelhecimento e poucos passos foram dados para travar um envelhecimento rápido e equilibrar a sua ocorrência irreversível.


O quarto gráfico explica em parte o que está a ocorrer em termos de revolução digital. A descida persistente do preço dos semicondutores e produtos associados. Nem toda a economia mundial está identicamente organizada para fazer jogar em seu benefício a força irreversível deste trend.
 


O quinto gráfico aponta para um dos grandes mistérios do nosso tempo, aliás já abundantemente referido neste blogue – a desaceleração da produtividade. O progresso tecnológico parece perder força, o que parece contraditório com o advento da economia digital.


O sexto gráfico corresponde a uma matéria sobre a qual produzimos neste blogue informação pioneira. A globalização económica parece estancada, Tardamos a recuperar o peso do comércio no produto mundial atingido aquando a crise financeira. Ventos de quadrantes diversos contribuem para tal e a emergência de Trump complica a sua superação.


Finalmente, o sétimo gráfico aponta para os contextos que foram combustível para o populismo económico. A percentagem de famílias que viram o seu rendimento estagnar ou diminuir desde a crise financeira (um pouco antes, mais rigorosamente) informa-nos sobre o terreno mais fértil para a disseminação do populismo. Não consta que ele grasse pelos campos da Suécia. O gráfico fala por si.

Resumindo, sete gráficos para uma agenda, necessariamente adaptada em função dos impactos nacionais destas tendências na economia global.

(Todos os gráficos com a devida vénia a Martin Wolf e ao Financial Times)

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