quinta-feira, 13 de julho de 2017

INDEPENDÊNCIA SIM, PATRIMÓNIOS À PARTE





A situação política na Catalunha caminha aceleradamente para o desvario. De um lado, o secessionismo catalão representado no Governo autonómico atual seguiu, indevida e precocemente em meu entender, a via da separação unilateral, gerando perigosas irreversibilidades. A separação unilateral não possui hoje na Catalunha uma maioria democrática suficientemente sólida para a respaldar. Do outro lado, o Governo central espanhol sob a liderança de Rajoy, respirando centralismo por todos os poros, foi evidenciando toda a sua inabilidade política para levar os independentistas catalães à mesa das negociações. Timothy Garton Ash, uma voz prestigiada na ciência política, conclui hoje em entrevista ao El País (link aqui) que o PP tinha margem de manobra para uma gestão política mais hábil, mas o seu centralismo de elefante em loja de porcelanas conduziu-o ao extremar da situação.

Criado este contexto, os últimos dias têm sido de completo desvario. No Governo autonómico, prepara-se o referendo, como se o não estivesse a fazer, para não dar argumentos a uma intervenção precoce do Governo de Madrid. Um jogo de sombras. Do lado de Madrid, estudam-se os movimentos dos secessionistas, para decidir quando avançar para o momento da inviabilização do referendo.

Mas do lado do Governo autonómico as coisas estão ao rubro. O presidente da Genefralitat, Puigdemont, indicou o seu Vice-Presidente Oriel Junqueras, líder da Esquerda Republicana que participa na coligação governamental, para assumir o poder de preparar o referendo, a partir provavelmente de uma única Conselheria. Junqueras, reforçado pelo atual peso eleitoral da ER, com perspetivas de ganhar umas novas eleições se as houver, exigiu condições para o fazer, e que condições. A condição  principal foi a responsabilização coletiva de todos os membros do Governo catalão para fazer face às consequências  de uma intervenção constitucional. Complementarmente, mas não com menos imoacto, JUnqueras exigiu recomposição do Governo. Propõe-se afastar elementos moderados, com dúvidas sobre o processo ou que receiem as consequências da insubmissão referendária. Curiosa e esclarecedora foi a posição de alguns elementos do PDeCAT de Artur Más, uma reminiscência da CiU. Um grande número destes elementos declarou aceitar as consequências políticas e judiciais da insubmissão referendária (incluindo a prisão), mas com a condição dos patrimónios pessoais e familiares ficarem a salvo de qualquer responsabilidade.

Subversão sim, mas patrimónios à parte.

Não deixa de ser um facto revelador dos tempos que correm. O referendo unilateral é um ato de pura subversão, pois equivale a uma rotura constitucional. Mas vão longe os tempos das revoluções.

Aliás, a história do nacionalismo catalão mais recente está por fazer. Dizia-me há dias o meu amigo galego Anxel Viña que estão por investigar as condições em que Jordi Pujol e a sua família aceitaram historicamente encabeçar a CiU, a força política catalã nacionalista, com forte apoio da burguesia catalã. Condições que poderão ajudar a compreender o lio criado com os desvios de fundos em que a família Pujol se viu envolvida.

A máxima parece ser, independência e subversão constitucional sim, mas patrimónios à parte.

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