A situação política na Catalunha caminha aceleradamente para o desvario. De
um lado, o secessionismo catalão representado no Governo autonómico atual seguiu,
indevida e precocemente em meu entender, a via da separação unilateral, gerando
perigosas irreversibilidades. A separação unilateral não possui hoje na Catalunha
uma maioria democrática suficientemente sólida para a respaldar. Do outro lado,
o Governo central espanhol sob a liderança de Rajoy, respirando centralismo por
todos os poros, foi evidenciando toda a sua inabilidade política para levar os
independentistas catalães à mesa das negociações. Timothy Garton Ash, uma voz
prestigiada na ciência política, conclui hoje em entrevista ao El País (link aqui) que o PP
tinha margem de manobra para uma gestão política mais hábil, mas o seu
centralismo de elefante em loja de porcelanas conduziu-o ao extremar da situação.
Criado este contexto, os últimos dias têm sido de completo desvario. No
Governo autonómico, prepara-se o referendo, como se o não estivesse a fazer, para
não dar argumentos a uma intervenção precoce do Governo de Madrid. Um jogo de
sombras. Do lado de Madrid, estudam-se os movimentos dos secessionistas, para
decidir quando avançar para o momento da inviabilização do referendo.
Mas do lado do Governo autonómico as coisas estão ao rubro. O presidente da
Genefralitat, Puigdemont, indicou o seu Vice-Presidente Oriel Junqueras, líder
da Esquerda Republicana que participa na coligação governamental, para assumir
o poder de preparar o referendo, a partir provavelmente de uma única
Conselheria. Junqueras, reforçado pelo atual peso eleitoral da ER, com
perspetivas de ganhar umas novas eleições se as houver, exigiu condições para o
fazer, e que condições. A condição principal
foi a responsabilização coletiva de todos os membros do Governo catalão para
fazer face às consequências de uma
intervenção constitucional. Complementarmente, mas não com menos imoacto,
JUnqueras exigiu recomposição do Governo. Propõe-se afastar elementos moderados,
com dúvidas sobre o processo ou que receiem as consequências da insubmissão referendária.
Curiosa e esclarecedora foi a posição de alguns elementos do PDeCAT de Artur Más,
uma reminiscência da CiU. Um grande número destes elementos declarou aceitar as
consequências políticas e judiciais da insubmissão referendária (incluindo a
prisão), mas com a condição dos patrimónios pessoais e familiares ficarem a
salvo de qualquer responsabilidade.
Subversão sim, mas patrimónios à parte.
Não deixa de ser um facto revelador dos tempos que correm. O referendo
unilateral é um ato de pura subversão, pois equivale a uma rotura
constitucional. Mas vão longe os tempos das revoluções.
Aliás, a história do nacionalismo catalão mais recente está por fazer. Dizia-me
há dias o meu amigo galego Anxel Viña que estão por investigar as condições em
que Jordi Pujol e a sua família aceitaram historicamente encabeçar a CiU, a
força política catalã nacionalista, com forte apoio da burguesia catalã. Condições
que poderão ajudar a compreender o lio criado com os desvios de fundos em que a
família Pujol se viu envolvida.
A máxima parece ser, independência e subversão constitucional sim, mas patrimónios
à parte.
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