Deem-me o direito a uma pequena e inofensiva francesice. É que tenho olhado com algum enlevo a prestação pública do ministro que Macron escolheu para o Ambiente. O seu título oficial já é, em si mesmo, extraordinário – ministro da Transição Ecológica e Solidária! – mas os seus anúncios sucedem-se de modo estonteante e conseguem sempre ser altamente mediatizados – até o “Le Monde” foi incapaz de resistir a fazer uma capa apontando ao “projeto de sociedade” de Nicolas Hulot. O conhecidíssimo e influente ex-jornalista e ativista ambiental (sim, o mesmo que assinou o “Pacto Ecológico” com Sarkozy) avança com o tout-électrique e a inerente proibição de venda de carros a gasolina ou gasóleo até 2040 (alguém disse que tal equivale a banir vendas de cavalos para transporte!), o fecho sem data de 17 reatores nucleares e o consequente objetivo de forte redução da componente nuclear da energia francesa (75%), o encerramento de todas as centrais a carvão até 2022, a não concessão de novas licenças de exploração de hidrocarbonetos, a neutralidade carbono a meio do século, entre outras promessas de menor monta (estados-gerais da alimentação, regulação dos pesticidas, ataque aos perturbadores endócrinos, etc.). No todo, o programa parece caraterizar-se por uma duvidosa solidez e ser marcado por uma relativa incompatibilidade com o rigor que Macron tem procurando imprimir à imagem do seu governo – mas até pode ser que seja só defeito meu...
(cartoons de Jean Plantu, http://lemonde.fr)
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