Após algum higiénico afastamento, voltei a assistir há dias àquele programa económico que o José Gomes Ferreira (JGF) de há muito vem animando na SIC Notícias. Tratava-se de um “debate” a cinco (Henrique Neto, João Salgueiro, João Ferreira do Amaral, Tiago Caiado Guerreiro e Clemente Pedro Nunes) sobre Portugal e a situação. Por entre vários motivos de reflexão – sempre entrecortados por uma asserção moralista e frequentemente despropositada do pivot –, foi em João Ferreira do Amaral (JFA) que encontrei a mais consistente perspetiva em presença. Perspetiva que o próprio começou por colocar nestes termos: “Eu penso que nós estamos numa fase da nossa evolução social em geral, e económica em particular, em que os problemas são mais institucionais do que económicos stricto sensu”.
De seguida, JFA declinou o seu raciocínio assim: “Penso que há um problema institucional externo, que é a nossa má inserção na União Europeia, em particular na Zona Euro, e as próprias dificuldades da União Europeia, que são graves e que estão longe de estar resolvidas, nem sequer equacionadas do meu ponto de vista. E temos um duplo problema institucional interno, que foi por um lado a débacle de grande parte do Sistema Financeiro nestes últimos anos e que é o enfraquecimento do Estado, que já tem mais anos, tem pelo menos 30 anos. Enfraquecimento do Estado que teve a ver, basicamente, com um enfraquecimento da Administração Pública em muitos domínios, alguns deles essenciais (...). É a partir dos anos 80 que começa este movimento de desfazer organismos da Administração Pública para empolar gabinetes de membros do Governo (...). E como esses gabinetes não respondem a tudo, evidentemente depois encomenda-se no exterior, quer sejam empresas de advogados quer sejam de consultadoria.”
E ainda não deixou de acrescentar: “Traduz-se também num problema que é, a meu ver, duplamente grave porque é um problema não só meramente de desenvolvimento económico mas também da própria identidade nacional, que é o desaparecimento do Interior enquanto economia e enquanto até, agora, a demografia. Porque qualquer dia não estará mesmo ninguém no Interior. Estes são dois grandes falhanços e, por isso, do meu ponto de vista, um dos aspetos essenciais, se nós queremos ter um desenvolvimento económico sustentável, é repor, recapacitar o Estado na ação que lhe compete fazer e não estes Deus-dará que – entre gabinetes de ministros, empresas de consultadoria e não se sabe bem o quê – vai criando um pântano que depois emerge em coisas como aquelas a que temos vindo a assistir.”
Aí fica o registo para devida nota e ponderação. Sem prejuízo de uma breve a que não resisto: é que já está encontrado o sucessor do pior de Henrique Medina Carreira (HMC). Trata-se de outro Henrique, Neto este, um sujeito cada vez mais amargo e dando sinais claros de estar cada vez menos bem com a vida. Com a agravante de que nem sequer tem aquela preocupação demonstrativa e chifrada que marcava a postura e a argumentação de HMC (não falo de conhecimento objetivo nem de rigor). Porque neste, Neto leia-se, são apenas bocas, bastante inveja e muito veneno...
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