Apesar do afundamento dos Espírito Santo e do que isso representou em
termos de adiamento de alguns projetos imobiliários que estavam na calha e que
colocavam a família naquele trade-off
conhecido, fazer negócio ou manter o sossego paradisíaco, a massificação está
latente nestas paragens do estuário do Sado e nas praias entre Grândola e Troia.
A infraestruturação das praias de Grândola, Comporta, Carvalhal, Pego e outras
menos acessíveis vão consolidando a sua infraestruturação, procurando conter os
malefícios já cometidos sobre as dunas anteriormente indefesas e agora mais protegidas.
Mas como todos sabemos, infraestruturação com a qualidade da que é por aqui
praticada significa o primeiro passo para uma massificação, embora regulada
pela magnitude do estacionamento permitido, pago como convém a esse propósito
de condicionar a intensidade de acesso.
Esta semana, um fenómeno agrícola qualquer colocou o universo das moscas em
pé de guerra. A presença destes irritantes seres presta-se a toda a série de associações,
mas dou ao fenómeno a interpretação benigna de uma intervenção agrícola que terá
revoltado as ditas.
O início latente de um processo de massificação, abrangido pelo raio de uma
hora e um quarto no máximo a Lisboa, não impede a presença de alguns locais
inusitados que continuam ou perdidos nos terrenos de areia e pinheiro manso ou
resistem na sua pequena dimensão como a aldeia da Comporta, com comércio local
claramente induzido pela procura sofisticada, não sabemos se totalmente
solvente, que se passeia por estas paragens. Recomendo a visita a uma pequena
mercearia que foi crescendo por acumulação de pequenos espaços, que são autênticos
nichos de produtos preciosos, em frente a um café-bar que se abriga
provocatoriamente à sombra de um eucalipto imponente e que, como não podia
deixar de ser, se chama EUCALIPTUS.
Entretanto, sob a calma desta pausa, tempo para colocar leituras de jornais
em dia, ficando claro para mim que o governo de António Costa estará nos próximos
tempos em sérias dificuldades com a evidência de que a coordenação no combate
ao alerta dos fogos de Pedrogão teve tantos buracos como rede a precisar de
compostura urgente. Continuo a pensar que aquele desabafo do Secretário de
Estado da Administração Interna com o Presidente da República anunciava o pior,
como efetivamente veio a suceder. O espírito de capela ou de soberania na
administração é demasiado evidente, colocando a nu a impotência política de
quem tutela estas áreas. Ou muito me engano ou será cada vez mais difícil arregimentar
gente política para estes cargos, tamanha é a ilusão do poder que as caracteriza.
Uma limpeza clara de cima a baixo nestas estruturas é o mínimo que se espera
que venha a acontecer para tentar impor alguma autoridade política.
Nas fraldas do assunto, há um debate relevante que se desenhou nos últimos dias
sobre as florestas e as celuloses entre a semi-provocação de José Manuel
Fernandes no Observador e a resposta não totalmente conseguida de Francisco Louçã
no Público. O debate é crucial e tenho para mim que há espaço para uma posição
intermédia e reformista entre a vassalagem às celuloses e a demonização das
mesmas, sobretudo quando o Estado, que possui uma percentagem de área mínima de
florestas, não consegue sequer tratar e proteger essa área mínima. Voltarei a
este assunto.
P.S. Sinal de que por terras da Comporta a tensão da massificação se
desenha, quem vai em direção à bela praia do Carvalhal pode reparar na dimensão
de umas gruas da Teixeira Duarte que avistam sobranceiras os muito belos arrozais
do Sado. Um local esclareceu-me que estava ali em construção um hotel de cinco
estrelas com trinta bungalows com a beleza desses arrozais por paisagem.
Sem comentários:
Enviar um comentário