domingo, 2 de julho de 2017

POR TERRAS DO SADO






Apesar do afundamento dos Espírito Santo e do que isso representou em termos de adiamento de alguns projetos imobiliários que estavam na calha e que colocavam a família naquele trade-off conhecido, fazer negócio ou manter o sossego paradisíaco, a massificação está latente nestas paragens do estuário do Sado e nas praias entre Grândola e Troia. A infraestruturação das praias de Grândola, Comporta, Carvalhal, Pego e outras menos acessíveis vão consolidando a sua infraestruturação, procurando conter os malefícios já cometidos sobre as dunas anteriormente indefesas e agora mais protegidas. Mas como todos sabemos, infraestruturação com a qualidade da que é por aqui praticada significa o primeiro passo para uma massificação, embora regulada pela magnitude do estacionamento permitido, pago como convém a esse propósito de condicionar a intensidade de acesso.

Esta semana, um fenómeno agrícola qualquer colocou o universo das moscas em pé de guerra. A presença destes irritantes seres presta-se a toda a série de associações, mas dou ao fenómeno a interpretação benigna de uma intervenção agrícola que terá revoltado as ditas.

O início latente de um processo de massificação, abrangido pelo raio de uma hora e um quarto no máximo a Lisboa, não impede a presença de alguns locais inusitados que continuam ou perdidos nos terrenos de areia e pinheiro manso ou resistem na sua pequena dimensão como a aldeia da Comporta, com comércio local claramente induzido pela procura sofisticada, não sabemos se totalmente solvente, que se passeia por estas paragens. Recomendo a visita a uma pequena mercearia que foi crescendo por acumulação de pequenos espaços, que são autênticos nichos de produtos preciosos, em frente a um café-bar que se abriga provocatoriamente à sombra de um eucalipto imponente e que, como não podia deixar de ser, se chama EUCALIPTUS.

Entretanto, sob a calma desta pausa, tempo para colocar leituras de jornais em dia, ficando claro para mim que o governo de António Costa estará nos próximos tempos em sérias dificuldades com a evidência de que a coordenação no combate ao alerta dos fogos de Pedrogão teve tantos buracos como rede a precisar de compostura urgente. Continuo a pensar que aquele desabafo do Secretário de Estado da Administração Interna com o Presidente da República anunciava o pior, como efetivamente veio a suceder. O espírito de capela ou de soberania na administração é demasiado evidente, colocando a nu a impotência política de quem tutela estas áreas. Ou muito me engano ou será cada vez mais difícil arregimentar gente política para estes cargos, tamanha é a ilusão do poder que as caracteriza. Uma limpeza clara de cima a baixo nestas estruturas é o mínimo que se espera que venha a acontecer para tentar impor alguma autoridade política.

Nas fraldas do assunto, há um debate relevante que se desenhou nos últimos dias sobre as florestas e as celuloses entre a semi-provocação de José Manuel Fernandes no Observador e a resposta não totalmente conseguida de Francisco Louçã no Público. O debate é crucial e tenho para mim que há espaço para uma posição intermédia e reformista entre a vassalagem às celuloses e a demonização das mesmas, sobretudo quando o Estado, que possui uma percentagem de área mínima de florestas, não consegue sequer tratar e proteger essa área mínima. Voltarei a este assunto.

P.S. Sinal de que por terras da Comporta a tensão da massificação se desenha, quem vai em direção à bela praia do Carvalhal pode reparar na dimensão de umas gruas da Teixeira Duarte que avistam sobranceiras os muito belos arrozais do Sado. Um local esclareceu-me que estava ali em construção um hotel de cinco estrelas com trinta bungalows com a beleza desses arrozais por paisagem.

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