Henrique Medina Carreira (HMC) foi, nestes anos, um dos meus pequenos ódios de estimação no estrito quadro de intervenção que corresponde a este nosso espaço. Na hora do seu desaparecimento, torna-se-me imperativa uma referência àquele que era também o homem bem intencionado com quem convivi nos idos de 90 pela mão de Miguel Cadilhe.
Pessoalmente, não duvido minimamente da dominância da componente valorativa nas suas tomadas de posição públicas. Mas não deixei por isso de ir construindo uma perspetiva muito crítica em relação ao impreparado primarismo de algumas delas e à autossuficiente arrogância da forma acintosa e bombástica como as ia manifestando. Sendo que, no entanto e quase paradoxalmente, HMC era um homem com preocupações quase obsessivas de rigor, num cruzamento explosivo entre uma espécie de dimensão aritmética e uma viciação proveniente do sua dimensão jurídica.
Arauto da desgraça para uns, pessimista esclarecido para outros, HMC fez o seu caminho de independência – mesmo que sempre plena de omissões e contradições – ao arrepio desses qualificativos excessivos, porque indevidamente desqualificantes ou glorificantes. O que não deixa de ser uma ironia do destino é que HMC desapareça num momento em que se vai tornando visível a triste realidade associada a algumas das suas proclamações mais sérias e menos agoirentas – como aquela que acima transcrevo e que o levava a distinguir o português individualmente desenrascado do português coletivamente em falha...
(R. Reimão e Aníbal F, Elias O Sem Abrigo”,
http://www.jn.pt)
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