terça-feira, 4 de julho de 2017

NO PALÁCIO


Sexta-Feira passada ao final da tarde, Casa Andresen (também Jardim Botânico), Rua do Campo Alegre, cidade do Porto. Inaugurava-se o primeiro polo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (UP) e, simultaneamente, o primeiro Centro Ciência Viva especificamente dedicado à biodiversidade.

A Galeria da Biodiversidade - Centro Ciência Viva passa assim passar a ocupar a casa onde Sophia de Mello Breyner e seu primo Ruben A. brincaram na infância, disponibilizando 49 módulos expositivos e instalações organizados em torno de 15 temas principais. Um espaço, como descreve a apresentação da UP, “onde a arte se cruza com a biologia e a história natural, estimulando uma panóplia de experiências sensoriais, propositada e cuidadosamente concebidas para celebrar a diversidade da vida”.

Marcelo falou em “momento de perfeição”, em “segundos de eternidade”, no “espírito do lugar”. E sugeriu o “irrepetível” (“nisso sou existencialista”), propondo o seu “gozo intenso”. Nuno Ferrand de Almeida, o grande responsável e entusiasta do museu, sublinhou o essencial, recordou Paulo Alexandrino e merece a saudação mais especial. Adriana Calcanhoto leu e cantou Sophia, embora não tenha conseguido localizar “O Palácio”, poema que celebra aquele espaço. Aí fica o dito:

Era um dos palácios do Minotauro 
- o da minha infância para mim o primeiro - 
Tinha sido construído no século passado (e pintado a vermelho) 

Estátuas escadas veludo granito 
Tílias o cercavam de música e murmúrio 
Paixões e traições o inchavam de grito 

Espelhos ante espelhos tudo aprofundavam 
Seu pátio era interior era átrio 
As suas varandas eram por dentro 
Viradas para o centro 
Em grandes vazios as vozes ecoavam 
Era um dos palácios do Minotauro 
O da minha infância - para mim o vermelho 

Ali a magia como fogo ardia de Março a Fevereiro 
A prata brilhava o vidro luzia 
Tudo tilintava tudo estremecia 
De noite e de dia 

Era um dos palácios do Minotauro 
- o da minha infância para mim o primeiro - 
Ali o tumulto cego confundia 
O escuro da noite e o brilho do dia 
Ali era a fúria o clamor o não-dito 
Ali o confuso onde tudo irrompia 
Ali era o Kaos onde tudo nascia

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