terça-feira, 4 de julho de 2017

POPULISMO E GLOBALIZAÇÃO






Como já por repetidas vezes foi salientado neste blogue, o estudo atempado e aprofundado da globalização realizado por Dani Rodrik em mais do que uma obra (embora afinada no Paradoxo da Globalização) deu argumentos suficientes para uma crítica reformista do processo, sem resultados práticos, esclareça-se. Não se esqueça que, em ambientes de populismo desenfreado, a VOZ das elites perde-se no ruído e na confusão.

Por essa razão, Rodrik tem autoridade que baste para a partir da sua investigação sobre globalização lhe acrescentar a dimensão do populismo, segmentando-o entre as experiências europeias, americana e latino-americana e relacionando-a com os diferentes choques provocados por essa mesma globalização.

E para maior consistência da argumentação, Rodrik mobiliza a teoria económica sempre inserida num contexto histórico, relembrando, por exemplo, os efeitos da crise do padrão ouro sobre os produtos agrícolas e os efeitos de geração de movimentos populistas que tais acontecimentos determinaram (links aqui e aqui).

Sempre com a perspetiva de que, mais importante do que a dimensão da desigualdade provocada pela globalização, é a perceção que sobre ela os diferentes grupos sociais alimentam, Rodrik recorda os efeitos geradores de desigualdade que teoremas fundamentais da economia internacional como o de Stolper-Samuelson permitem identificar para lá dos pressupostos fundamentais que os suportam. Nunca poderemos ignorar que, no caso de bens potencialmente importáveis, o fator de produção mais intensivamente utilizado nesse bem quando ele continua a ser produzido, é regra geral penalizado em termos de rendimento. É um exemplo que mostra que uma maior atenção à teoria económica e não a sua utilização panegírica e acrítica ao serviço da vulgarização do laissez-faire teriam permitido cortar as vazas dos populismos de esquerda e de direita.

Mas o problema é que as elites económicas precipitaram a sua perda de VOZ, aderindo ao pasquim do laissez-faire acrítico. E, à esquerda, a crítica acirrada aos regionalismos do comércio livre não tem sido ouvida pela alternativa consistente de fundamentos e de rumos para esses tratados, mas antes pelo ruído que tendem a provocar, por vezes violento. Ora, com ruído ninguém ouve as elites mais críticas e coerentes.

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