Como já por repetidas vezes foi salientado neste blogue, o estudo atempado e
aprofundado da globalização realizado por Dani Rodrik em mais do que uma obra (embora
afinada no Paradoxo da Globalização) deu argumentos suficientes para uma crítica
reformista do processo, sem resultados práticos, esclareça-se. Não se esqueça
que, em ambientes de populismo desenfreado, a VOZ das elites perde-se no ruído e
na confusão.
Por essa razão, Rodrik tem autoridade que baste para a partir da sua investigação
sobre globalização lhe acrescentar a dimensão do populismo, segmentando-o entre
as experiências europeias, americana e latino-americana e relacionando-a com os
diferentes choques provocados por essa mesma globalização.
E para maior consistência da argumentação, Rodrik mobiliza a teoria económica
sempre inserida num contexto histórico, relembrando, por exemplo, os efeitos da
crise do padrão ouro sobre os produtos agrícolas e os efeitos de geração de movimentos
populistas que tais acontecimentos determinaram (links aqui e aqui).
Sempre com a perspetiva de que, mais importante do que a dimensão da
desigualdade provocada pela globalização, é a perceção que sobre ela os diferentes
grupos sociais alimentam, Rodrik recorda os efeitos geradores de desigualdade
que teoremas fundamentais da economia internacional como o de Stolper-Samuelson
permitem identificar para lá dos pressupostos fundamentais que os suportam. Nunca
poderemos ignorar que, no caso de bens potencialmente importáveis, o fator de
produção mais intensivamente utilizado nesse bem quando ele continua a ser produzido,
é regra geral penalizado em termos de rendimento. É um exemplo que mostra que uma
maior atenção à teoria económica e não a sua utilização panegírica e acrítica
ao serviço da vulgarização do laissez-faire
teriam permitido cortar as vazas dos populismos de esquerda e de direita.
Mas o problema é que as elites económicas precipitaram a sua perda de VOZ,
aderindo ao pasquim do laissez-faire acrítico. E, à esquerda, a crítica acirrada
aos regionalismos do comércio livre não tem sido ouvida pela alternativa
consistente de fundamentos e de rumos para esses tratados, mas antes pelo ruído
que tendem a provocar, por vezes violento. Ora, com ruído ninguém ouve as elites
mais críticas e coerentes.
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