Primeira entrevista em S. Bento do primeiro-ministro. Um homem a esforçar-se para construir junto dos portugueses a imagem que de si próprio quer fazer veicular nesta sua nunca imaginada aventura: autoconfiança (contornando um indisfarçável nervoso miudinho), competência (desfiando números e medidas sem parar), liderança (pretendendo apresentar-se como senhor de um rumo para o País), humildade democrática (declarando-se inteiramente respeitador do PS e da sua legitimidade), ímpeto reformista (evitando qualquer confronto com a sua prática generalizadamente distributiva e despesista destes meses) e despojamento (prometendo que nada mais será na atividade política depois deste cargo). E uma entrevistadora cada vez mais condicionada pelas suas consabidas e axiomáticas opções ideológicas, a léguas de distância da bem mais isenta a Maria João Avillez de tempos passados, e tão perdida em conversa fofa e salamaleques que acabou por deixar cair alguns temas essenciais que aparentemente tinha preparado para lançar.
Poucas verdadeiras novidades, limitadas estas à quase assunção de Marques Mendes como seu candidato presidencial, ao pré-aviso de despedimento ao governador do Banco de Portugal Mário Centeno e à confissão de uma vontade de privatização integral do capital da TAP. Um momento alto de retórica argumentativa, embora talvez excessivo na perspetiva de uma potencial defesa dos seus interesses objetivos a prazo, na forma desabrida com que muito justamente destratou o “Chega”. Por fim, diria que se tornou nitidamente percetível que Montenegro esteve a jogar a sua última cartada de encostar à parede Pedro Nuno Santos e o PS, mas que tal não o inibiu de já se ir apresentando em pleno modo de campanha eleitoral para ensaio geral do que possa estar para vir.
No final desta noite, e depois dos episódios do dia, fica-me a impressão de que o presidente do PSD ainda vai ter muito que esperar até que Alexandra Leitão e Marina Gonçalves deem o seu visto bom de luz amarela ou vermelha quanto ao posicionamento do PS na votação orçamental, um intervalo de tempo que ainda irá permitir que vários truques e armadilhas venham a emergir; tudo isto com os “influentes” (Assis, Sérgio, Beleza, entre outros) calados que nem ratos e certamente orgulhosos das suas magníficas prestações em prol do socialismo democrático e da Pátria amada.
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