A proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2025 está transformada numa verdadeira odisseia lusitana! Daí que me pareça desde logo justificável uma breve olhadela sobre os títulos de capa dos nossos jornais no day after à sua apresentação por Joaquim Miranda Sarmento – afinal o “Estado saca” ou o Governo “reduz carga fiscal”? E até que ponto “condutores vão pagar descontos do IRS Jovem”? E o que se quer é “pôr o país a crescer” ou gerir “um Orçamento no fio da navalha”? E, por fim, será mesmo que “não há uma décima de margem para negociar na especialidade” ou que tudo pode acontecer num quadro em que tanto está “em suspenso”? Isto por um lado.
Acresce, por outro lado, o PS e o seu líder, Pedro Nuno Santos (PNS). As dificuldades são aqui tremendas, embora mais do que compreensíveis. O problema tem várias cambiantes, mas todas desembocam no grande dilema de PNS: deve o seu partido de centro-esquerda consagrar em definitivo uma estratégia de afrontamento entre um bloco à esquerda que pretenderia dominar e um bloco à direita que teria o PSD por principal força? E como lidar neste quadro com os tantos “moderados” que o rodeiam (entre “costistas”, instalados no politicamente correto e “pensadores livres” mas não o suficiente para prescindirem de uma confortável ocupação de lugares em nome do partido), aceitar sem mais o seu conformismo e/ou oportunismo ou exigir-lhes a disciplina que ele próprio não adotou em tempos passados? E como ligar estas dúvidas à análise concreta da situação concreta, isto é, à hesitação fundamental entre a hipótese de uma derrota patriótica através de um voto abstencionista no OE ou, ao invés, de um chumbo do mesmo e correspondente risco de novas eleições e provável perda adicional de peso eleitoral?
Uma única coisa é certa, num contexto recentemente agravado pelo taticismo primário com que Montenegro pensou ser capaz de gerir as diabruras do inconcebível Ventura e garantir a sua manutenção no poder à custa de um misto de conversa fofa para os ouvidos de 50 parlamentares populistas: estamos perante um verdadeiro cu-de-boi, sendo apenas positivo que Marcelo esteja desaparecido em combate (mesmo que por mera consciencialização da sua manifesta impotência). Surprise, surprise, embora correspondendo a algo aparentemente implausível à data de hoje, seria que tudo isto acabasse com o “Chega” a votar favoravelmente o OE sem qualquer negociação e em nome de um estadismo responsável que cada um dos partidos centrais não tenha sido capaz de concretizar – e esta, hein?
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