sábado, 19 de outubro de 2024

OBRAS, OBRAS E MAIS OBRAS

 


(O Porto está um inferno de tráfego, Gaia vai pelo mesmo caminho e creio que as duas situações estão a interagir uma com a outra através das três pontes Arrábida, Infante e Freixo, já que em termos de tráfego automóvel a D. Luís está praticamente condenada a uma influência residual. O inferno é tal que dou comigo a vociferar com os dois dias de trabalho presencial que tenho no escritório de Matosinhos, obrigando-me a sair do ninho cada vez mais cedo, na vã esperança de reduzir tempos de espera. Ontem, dia de redução de horário, fiz a minha incursão pelas bandas do Carmo e da Reitoria da Universidade, em linha com o calendário capilar, ou seja, demando regra geral aqueles sítios quando se torna necessário cortar as melenas na Invicta, hoje reduzida, sinal dos tempos e talvez da invasão das “barber shops”, a dois funcionários e na passagem complicada para o Carmo pelo túnel de Ceuta, a barbearia Veneza ao pé do Hotel Infante Sagres estava vazia e expectante com um único barbeiro à porta. Toda aquela zona está condicionada pelas obras do Metro, que persistem junto à Universidade e se mantêm incómodas e agressivas nas imediações do Hospital de Santo António, com o Jardim do Carregal ainda impróprio para consumo. E já que obras puxam outras obras o Jardim da Cordoaria entrou em remodelação para intensificar o caos.)

A combinação da chuva miudinha, dos diversos grupos de turistas com guias atarefados e de toda aquela azáfama de obras e mais obras concediam ontem pela manhã aquela zona da Cidade atmosferas estranhas. Interrogo-me como com tanto buraco aberto e em construção, taipais mais ou menos coloridos, ruído que baste pela movimentação de máquinas e consequência de algumas perfurações que continuam insistentes o número de turistas não desarma e continua a demandar a Cidade, não sei exatamente da Cidade que pensaram visitar e não a que apanham pela frente.

Na breve digressão que esta manhã capilar me proporciona, dei conta que é cada vez mais difícil encontrar uma loja com um conceito diferente, uma loja que designaríamos há uma década de alternativa e refletindo a onda de criatividade que animava então a Cidade. Nessa altura, ao desaparecimento das lojas e do comércio tradicionais opunham-se pelo menos alguns desses exemplos de empreendedorismo comercial de gente interessada em proporcionar novos consumos e vivências. Por agora, isso parece limitado à restauração, bares, cafetarias e outras lojas para consumo de refeições.

Tenho de confessar que a ideia da turistificação começa a pairar nas minhas observações e sempre resisti à crítica fácil de que o turismo iria arrasar tudo e transformar negativamente a Cidade. O empreendedorismo mais alternativo parece ter cedido ao ganho fácil de resposta à procura turística e, como alguém próximo o sugeria hoje, é mais fácil encontrar em Matosinhos, por exemplo, esse tipo de empreendedorismo comercial do que no Porto. Num registo da mesma natureza, embora influenciado por causas diferentes, a minha descendência direta que vive no Porto teve este ano uma experiência turística em Nova Iorque, o que lhe permitiu comparar com duas anteriores visitas já bem longe no tempo (que são a minha última memória daquela fervilhante Cidade). Devido essencialmente à força do comércio on line nos EUA, é hoje extremamente difícil encontrar uma loja qualquer em Nova Iorque com stocks mais ou menos diversificados e alternativos além dos consumos tipicamente de massa. Como se o comércio mais ou menos alternativo tivesse sido apropriado pela internet e pelos consumos online ou estivesse limitado a lojas que funcionam praticamente em circuito fechado, abrindo-se apenas para consumidores muito específicos. Trata-se como compreendem de um fenómeno com causas totalmente distintas das que explicam a escassez das lojas de comércio mais alternativo no Porto. Mas que vai no mesmo sentido de fazer minguar a criatividade no empreendedorismo comercial, com exceção da restauração, como já o referi.

Nota complementar

Finalmente, o PS de Pedro Nuno Santos resolveu acabar com a novela do orçamento e anunciar a sua abstenção em sede de apreciação global, não sendo ainda muito claro para mim que estratégia seguirá em sede de discussão na especialidade. Depois de tanto azedume e palavras de cátedra ideológica (pelos vistos zangado com Sérgio Sousa Pinto, continuo sinceramente a espantar-me com o peso mediático deste personagem), Pedro Nuno Santos não arranjou melhor desculpa do que justificar-se com o facto de Portugal ter tido eleições há muito pouco tempo para assumir a abstenção e assim viabilizar o orçamento para 2025. Continuo a pensar que PNS ainda não compreendeu muito bem que as ideias programáticas e de valores dos partidos têm de ser aplicadas em contextos políticos muito concretos, exigindo sempre uma reflexão bastante profunda sobre a sua adaptação a esses diferentes momentos. E quando se pretende mudar referenciais que integram a memória vivida de uma pluralidade efetiva de confronto entre tendências tentar passar para um registo de unicidade é perigoso e pode secar algum do dinamismo do PS, ainda que o anquilosamento de algumas federações seja um dado preocupante.

Passado que esteja o orçamento, e isso não significa que ignoremos o caos em que a discussão na especialidade pode transformar-se, estou curioso em saber qual o estilo de oposição que PNS irá dinamizar até à discussão do orçamento de 2026. Ouvi, entretanto, falar de Estados Gerais mas a sentimento e sem mais informação a ideia é requentada. Estaria mais atento se fosse anunciada algumas ideias mais estruturantes para o funcionamento interno do próprio partido. Mas a manifestação ainda nem sequer saiu do ponto de encontro …

 

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