Agora é o caso INEM que está a ocupar por inteiro o palco político-mediático nacional. Com o “Chega” a aproveitar todos os ensejos possíveis e imaginários para lançar a confusão e ir desacreditando o chamado “sistema”. Só que desta vez os acontecimentos alcançaram um plano muito alto de gravidade, sobretudo porque a incúria de alguém (digamos assim) redundou em mortes (como muito bem titulou Ana Sá Lopes – ver acima). Perante esta infeliz evidência, que ninguém seja responsabilizado (ao menos politicamente, da ministra à “anémica” secretária de Estado ou ao presidente do INEM) parece-me incompreensível (inclusivamente à luz de precedentes históricos, como os de Correia de Campos ou de Marta Temido, e de exigências nesse sentido por parte do PSD então na oposição); uma ministra que, independentemente da sua competência específica, já não é virgem em situações complicadas como a da demissão do anterior presidente do INEM por desconfiança em relação à tutela (!) – uma desconfiança que factualmente se viria a confirmar justa posteriormente... Sendo ainda que a reação do primeiro-ministro, o mesmo que se precipitou a apanhar um barco no Douro aquando da queda de um helicóptero, foi no mínimo ridícula – “O Governo não pode andar atrás todos os dias de pré-avisos de greve”, mesmo? – e apenas se pode justificar por ter sido apanhado desprevenido pelos jornalistas em Budapeste e ter ficado notoriamente atrapalhado (veja-se acima a fingida inocência do seu fácies) ao encarar as suas inquirições.
Tem sido notória uma grande convergência dos analistas e comentadores em torno de uma censura inapelável ao Governo. Num dos podcasts que gosto de ouvir (“Comissão Política”), o criticismo atingiu níveis surpreendentemente violentos em gente habitualmente cordata e moderada como David Dinis, Vítor Matos e Eunice Lourenço. Sustentou-se até ser esta uma situação que releva da empatia ou da falta dela na atitude e no posicionamento dos principais protagonistas e responsáveis envolvidos, assim recuperando quase paradoxalmente uma das damas mais caras ao discurso com que Pedro Nuno Santos se apresentou aos portugueses nas últimas eleições.
Mas Ana Sá Lopes, uma jornalista tão conhecedora e experiente quanto por vezes voluntarista e intuitiva, juntou outras considerações à sua argumentação ao escrever preto no branco que também importará referenciar que, incúrias à parte, estivemos perante “uma consequência das tão amadas ‘contas certas’ de Costa”, ou seja, que estas “redundaram numa objetiva degradação dos serviços públicos”. E foi mesmo mais longe ao sublinhar que “erigir os excedentes orçamentais no alfa e no ómega dos governos foi o equivalente socialista ao ‘ir além da troika’ de Pedro Passos Coelho.”
Triste país este que vive em permanência perdido entre o oito e o oitenta, no caso entre o endividamento sem medida e o aperto apressado e levado para além do necessário e razoável!
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