sexta-feira, 1 de novembro de 2024

QUE SEJA UMA MENINA!

(Ben Jennings, https://www.theguardian.com

São já incontáveis as vezes em que neste espaço prenunciamos a iminência de momentos nacionais e internacionais dotados de alto potencial de perigosidade. E se tal correspondeu quase sempre a hipóteses de evolução com riscos reais e bem discerníveis, talvez nunca como à entrada deste novembro de 2024 tenhamos estado a escassos dias de nos podermos deparar com uma contingência tão séria em implicações quanto aquela que pode decorrer de uma vitória de Donald Trump nas eleições americanas de Terça-Feira.

 

As perspetivas são efetivamente ameaçadoras em face do quadro de profunda incerteza que parece estar no terreno. Embora algumas sondagens quase finais tenham voltado a trazer sinais de esperança, sobretudo nos três swing states do “Rust Belt” (Wisconsin, Michigan e Pensilvânia), os indicadores continuam a ser dominantemente contraditórios. Sendo que, enquanto o eleitorado feminino parece ser o mais sensato e hostil às manobras e provocações de Trump (e do seu desprezível aliado Elon Musk), residirão no eleitorado masculino negro as hesitações capazes de fazer a diferença em favor de uma banda ou de outra.

 

Kamala, por seu lado, fez o que pôde, tendo até começado por ser surpreendente e animadora a forma como inverteu os caminhos de uma eleição que Biden já tinha perdido; ainda assim, e não obstante os seus titânicos esforços, fica-me a ideia de que há um qualquer detalhe (pessoal, programático ou com ambos os matizes?) que lhe falta para ser alguém capaz de mobilizar de modo contagiante, que ostente o peso de uma indiscutível vencedora.

 

No day after não faltará quem responda às questões que a disputa fez ressaltar em múltiplas sedes (carisma, equipa, estratégia política, estratégia de campanha em termos operacionais, geográficos e de aproximação a grupos sociais, financiamento, variações táticas, etc.), tal como quem nos venha explicar porque eram óbvias as razões que apontavam para o resultado apurado, mas o que é certo é que hoje a densidade do nevoeiro é de tal monta que não permite ver claro no horizonte e alimenta a angústia com que tantos de nós aguardam pelo veredito da maioria dos americanos – façamos figas para que deste difícil “parto” saia a melhor das exclamações, ademais salvífica: “é uma menina!”, pois então... 

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