Títulos noticiosos recentes ilustram a bagunça que para aí vai em matéria de imigração. Deixando de lado as sucessivas atribulações ocorridas em torno do SEF, tornado AIMA, e os casos mais escabrosos de pessoas mal tratadas pelos empregadores (ou agenciadores) e/ou vivendo em condições miseráveis e indignas – acima simbolicamente aflorados nas situações de trabalho escravo de indianos ou nas do clã mexicano que dirige uma operação tipo mafiosa em Grândola –, a realidade dominante está nos muitos imigrantes que por cá trabalham honestamente (como os de vinte procedências nacionais que o JN foi encontrar nas obras do Metro do Porto) e na nossa extrema necessidade de que venham mais (como explicou o ministro Castro Almeida, preocupado com a execução do PRR), mas também no miserabilismo da remuneração média que auferem (600 euros mensais brutos) a despeito do seu contributo positivo para a Segurança Social; em acréscimo, a nossa atratividade manifesta-se ainda na crescente instalação por cá de milionários brasileiros e americanos (entre outros, como os franceses ou alguns nórdicos, estimulados pela nossa baixa fiscalidade relativa, ou os chineses, de mais complexas motivações) numa procura da segurança e estabilidade vivencial que começam a sentir em falta nos seus países de origem. Ou seja, e este é o meu ponto, estamos perante um fenómeno com significativo e diverso ganho de expressão e cuja abordagem política não deve ser deixada ao sabor da corrente, quer por razões de facilitismo primário (“a coisa tem tantos contornos que o melhor é não mexer” ou “a Europa vai tratando”), de objetiva discriminação (“a invasão é tanta que não falta quem queira” ou “eles protegem-se entre si e lá se arranjam”) ou de manifesta incompetência organizativa e estratégica própria. Um alerta a que importaria que fosse dada mais atenção, sobretudo porque as questões da imigração não podem definitivamente tornar-se um feudo da extrema-direita populista e radical...
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