Tal como já referi em posts anteriores, os anos 90
proporcionaram situações de instabilidade macroeconómica cujos resultados e
ensinamentos foram largamente menosprezados pelos economistas. O que é
particularmente perturbador já que esse período foi alvo de uma vasta e
multifacetada investigação que, pelos vistos, caiu em saco roto. A coexistência
de uma década de profunda estagnação da economia japonesa com as crises
cambiais das economias asiáticas com epicentro na Tailândia determinou uma
situação de forte instabilidade que só a mais longa expansão da economia
americana evitou que degenerasse numa recessão mundial.
Os ensinamentos suscitados pela década de 90 teriam sido
extremamente úteis na abordagem à Grande Recessão de 2008/09 acaso não tivessem
sido ignorados ou, pelo menos, não suficientemente recordados para influenciar
a política macroeconómica global.
Por isso, é expectável que, após 4 anos de prolongamento
dos efeitos da Grande Recessão, sem uma abordagem consistente à sua superação,
a comparação entre a situação actual e a década de 90 continue a interessar
alguns economistas na busca de soluções mais eficazes. Entre os traços de
comparação explorados, é sobretudo a situação da economia japonesa que é
objecto de mais atenção.
É neste contexto que, para leitores com formação
macroeconómica mais sólida, recomendo vivamente um artigo recente de um
investigador do Nomura Research Institute de Tóquio, Richard C. Koo. O artigo
chama-se “O mundo em recessão de balanço: causas, terapia e política”. O conceito
chave do artigo é o de recessão de balanço (balance
sheet recession). Segundo Richard C. Koo, o que caracteriza uma
recessão desta natureza é o conjunto de comportamentos posteriores a uma bolha financeira. Com o colapso dos
preços dos activos financeiros e com a permanência dos passivos
correspondentes, uma parte substancial do sector privado entra num processo de
minimização da dívida, poupando ou reembolsando parte da dívida acumulada. Esta
minimização equivale a uma desalavancagem generalizada da procura agregada,
aliás como outros economistas têm sublinhado. Numa situação deste tipo, a
desalavancagem do sector privado limita a acção da política monetária, já que o
sector privado mais endividado tende a reduzir a procura de crédito e parte do
sector bancário também atingido pelas imparidades diminui também a oferta de
crédito ao sector mais endividado. A desalavancagem do sector privado acontece
mesmo em contexto de taxas de juro próximas de zero, tendendo a provocar uma
situação de espiral deflacionária. A perda de procura agregada é contínua e
igual à soma da poupança adicional e do reembolso líquido das dívidas. É neste
contexto que a manutenção de um estímulo fiscal é absolutamente necessário para
contrariar e inverter a espiral deflacionária. Do artigo: “(…) Nada pior do que
uma consolidação fiscal quando o sector privado está doente e a minimizar a sua
dívida”.
A analogia é perturbadora: tal como em 1997 e 2001 uma
consolidação fiscal prematura comprometeu irremediavelmente a recuperação da
economia japonesa, também agora uma consolidação fiscal generalizada (friso
bem) pode conduzir a economia mundial ocidental a uma espiral deflacionária.
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