Economics 10 é um conhecido
curso de introdução à economia leccionado em Harvard por Greg Mankiw, um
economista de larga reputação, que tem tido por suporte as sucessivas edições
do Principles of
Economics, uma das obras de Mankiw com maior difusão mundial.
Como já assinalei em posts anteriores, o curso de Mankiw foi objecto de
contestação no âmbito do prolongamento das actividades do movimento global dos
Ocupados, designadamente na área de Boston. O movimento endereçou uma carta
aberta a Greg Mankiw (http://hpronline.org/harvard/an-open-letter-to-greg-mankiw/), denunciando o que no seu entender
constitui um enviesamento do enfoque proposto pelo curso, considerado demasiado
redutor.
Após um período, presume-se de reflexão, Mankiw publicou no New York Times
de 3 de Dezembro de 2011, um texto de resposta à contestação de que foi alvo,
designado de “Know What You’re Protesting” (http://www.nytimes.com/2011/12/04/business/know-what-youre-protesting-economic-view.html?_r=1&scp=1&sq=Greg%20Mankiw&st=cse). É uma resposta polida, equilibrada, mais paternalista do que pedagógica,
que aproveita para esclarecer a dimensão que o protesto revestiu (percentagem
de alunos que abandonou a sala no dia do protesto), que é o aspecto menos
relevante para os objectivos deste post. ). Para uma posição de defesa do
curso, ver http://hpronline.org/harvard/in-defense-of-ec-10/. É mais
interessante registar o desabafo de Mankiw que confirma nostalgicamente a
generalização nos tempos recentes de uma tipologia de alunos mais interessados
na perfeição dos seus apontamentos do que bater-se pela reforma social. Seria
oportuno investigar as razões que conduziram a esse padrão de coisas.
Certamente que o contexto dos cursos leccionados não ficará de fora da
explicação. Mas é sobretudo relevante registar o argumento utilizado por
Mankiw, curiosamente trazido de Keynes, sobre o âmbito e limitações da teoria
económica: “A teoria económica não fornece um corpo consolidado de conclusões
imediatamente aplicáveis às políticas. É mais um método do que uma doutrina,
uma ferramenta mental, uma técnica de pensamento, que ajuda quem as utiliza a
formular conclusões correctas”.
A invocação de Keynes tem pano para mangas, pois pode ser erradamente interpretada
como um convite à não contextualização das propostas de política económica que
resultam da teoria. Pode dizer-se que o alvo da contestação talvez não seja o
mais certeiro. Haverá manuais de introdução à economia mais enviesados do que
os Principles
de Mankiw. Seguramente. Mas o que temos de convir é que os cursos de Introdução
à Economia, como o Economics 10
de Harvard, são cruciais para marcar uma trajectória de iniciação à disciplina,
não sendo por isso indiferente sua organização de conteúdos e sobretudo a
atitude que potenciam por parte de quem o utiliza como auxiliar. Não é por
acaso que alguns iluminados (e conheço tantos pela minha longa experiência de
ensino na Faculdade de Economia do Porto) que, ao mínimo pretexto de revisão de
planos de curso, se apressaram imediatamente a suprimir a disciplina de
Introdução è Economia, canalizando a frio os alunos para cursos de Micro e
Macroeconomia. Pudera. O que mostra que não se trata apenas de métodos ou
ferramentas. A formação neste campo não é incompatível com uma visão mais
plural quer dos paradigmas económicos, quer dos problemas e contextos reais
sobre os quais o cidadão comum espera um contributo dos economistas.
Em meu entender, não se trata apenas de uma questão de manual. Há trabalho
a fazer neste campo. Tive o prazer de apresentar há já algum tempo no Porto o Economia (s) de José Castro Caldas e de
Francisco Louçã (Edições Afrontamento) que vai nesse sentido e que representa
um primeiro contributo. Mas, repito-me, não é apenas uma questão de manual. É
de ambiente de curso e de escola que se deve falar, de valorização da
capacidade de pensar pela própria cabeça, de honestidade e abertura
intelectual, o que nem sempre está garantido. Vem-me à cabeça a vida de alguns
anos que teve um manual de ensino da economia para o ensino secundário (que
desperdício de tempo lectivo), organizado sob o modelo de divulgação da vulgata
marxista, hoje saudavelmente suprimido. O que mostra que, deixada à solta,
qualquer vulgata, independentemente da sua orientação, é o pior serviço que se
pode prestar a uma saudável e desinibida iniciação à economia.
Sem comentários:
Enviar um comentário