segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

NA EXPECTATIVA … DE MAIS UMA CIMEIRA




Merkel e Sarkosy esgotaram praticamente todas as posições possíveis para uma fotografia de circunstância, tantos têm sido os momentos de encontro realizados sob os olhos da comunicação social. Não sei que pose irão inventar para a cimeira do próximo fim-de-semana.

De acordo com as notícias de hoje, posteriores à conferência de imprensa do princípio da tarde, as posições alemãs ganham a dianteira e tendem a marcar a base de discussão para a cimeira. Com duas cedências de pequeno porte, abdicar da necessária participação dos credores privados em eventuais processos de reestruturação da dívida e da intervenção do Tribunal de Justiça Europeu como último garante da disciplina fiscal, Merkel transporta para a discussão a sua principal linha de argumentação. Alteração de tratados, a 27 ou a 17 conforme o rumo da cimeira e obrigatoriedade de regras de ouro fixadas nas constituições dos “indisciplinados” para garantir a não ocorrência de défices permanentes são opções que marcam a posição alemã desde há algum tempo. A clarificação do que são défices permanentes ficará certamente reservada para a burocracia técnica da Comissão e a sua relação com o ciclo económico nessas economias será provavelmente ignorada. Em suma, via punitiva primeiro, só depois a cenoura, mirrada por certo. O papel do BCE continua adiado e dependente dos procedimentos de supervisão dos défices e a percepção de que a crise actual não é uma crise de dívida continua completamente ausente do debate político ao nível do directório. Podemos ficar comovidos ou de pé atrás com o choro em público da Ministra do Trabalho italiana ou com o Monti-compungido Primeiro-Ministro italiano, mas o problema de crescimento da Itália permanece inatacado.

Estou curioso qual vai ser o sentido do debate político em Portugal sobre a admissão da regra constitucional do equilíbrio orçamental.

Entretanto, a OCDE (www.oecd.org/dataoecd/40/58/49170768.pdf) anunciou hoje (com publicação a 19 de Dezembro de 2011) mais um relatório sobre o agravamento da desigualdade, com Portugal a acompanhar esse movimento, com valores só ultrapassados no universo da OCDE por Israel, Estados Unidos da América, Turquia, México e Chile (ver uma perspectiva geral do estudo em www.oecd.org/dataoecd/40/12/49170449.pdf) . Preocupantemente, mesmo nos países mais igualitários como os escandinavos, com relevo para a Suécia, o desvio entre ricos e pobres aumentou dos anos 80 aos nossos dias, mesmo assim longe da desigualdade americana (seguir o debate dos WE ARE THE 90%).

1 comentário:

  1. Não vamos confundir. Merkel e Sarkozi não esgotaram nada. A imprensa e a opinião corrente de orientação socialista é que não deixam de insistir sempre no mesmo, como se os legítimos representantes dos povos alemão e francês não pudessem entender-se.
    O Linguado jé denunciou esta situação: http://olinguado.blogspot.com/2011/12/as-autoridades-advertem-linguado-em.html

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