sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CONTROLOS DE CAPITAIS


Nos últimos dias, um estudo do Banco de Inglaterra (“The future of international capital flows”, Financial Stability Paper nº 12 – Dezembro de 2011) (www.bankofengland.co.uk/publications/fsr/fs_paper12.pdf) ocupou um largo destaque na imprensa económica especializada. Uma das jornalistas (Gillian Tett) mais populares do Financial Times dedicou-lhe mesmo um artigo que mereceu destaque principal na página electrónica do jornal (http://www.ft.com/intl/cms/s/0/fec556f6-272a-11e1-b7ec-00144feabdc0.html#axzz1geQF28Vp.
Pode perguntar-se o que é que terá determinado tanto alarido em torno de um simples “working paper”. O ponto que despertou a atenção dos analistas foi a referência a um documento desta natureza à possibilidade de alguns países, face à evolução da situação de instabilidade financeira, introduzirem controlos à livre circulação de capitais, com efeitos imprevisíveis nas opções de outros países. Só o grande nervosismo de todo o sistema financeiro explica o impacto desta possibilidade, perfeitamente óbvia em meu entender.
A globalização financeira, com a disseminação a todo o preço da perfeita liberdade de circulação do capital sempre constituiu a maior fragilidade do aprofundamento do processo de globalização. Reportando-me ao curso de Globalização que leccionei na Faculdade de Economia do Porto, o estudo das crises asiáticas, inicialmente cambiais, mas financeiras no fim de contas, dos fins dos anos 90, mostrou com evidência que os países que impuseram mais cedo, em plena crise, controlos à circulação de capitais, tenderam a minimizar mais favoravelmente os efeitos devastadores de tais crises. Vários economistas (Krugman, Stiglitz, Rodrik e outros menos críticos das posições então defendidas pelo FMI) mostraram com clareza a debilidade de todo um sistema em que a desregulamentação dos mercados financeiros internacionais colocava os países alvos de especulação internacional ou de volúpia financeira interna numa situação de total desprotecção face à dívida em moeda estrangeira. O eco das crises asiáticas foi-se perdendo e o retorno do abalo financeiro em 2008/09, agora nos Estados Unidos, rapidamente se transmitiu a todo o mundo cativo dessa desregulamentação. Se há domínio em que o potencial de regulação ignorou, arrogantemente, os escritos avisados de alguns economistas, o da globalização financeira está na primeira linha. A globalização financeira não viabilizou o aprofundamento do processo de globalização, antes o comprometeu.
Por isso, a probabilidade de alguns países assumirem opções de controlo temporário ou mesmo por alguns períodos dos fluxos de capitais é elevada e não entendo a estranheza. Claro que dependerá dos regimes cambiais em que tais economias estiverem inseridas. Mas os atrasos inexplicáveis em concretizar modelos de regulação mais rigorosos considerados como indispensáveis em plena perturbação do fim da década anterior irão gerar comportamentos desse tipo.

Curiosamente, o estudo do Banco de Inglaterra coloca questões muito relevantes e sugestivas para o futuro prospectivo dos movimentos de capitais que não suscitaram a mesma atenção. A previsão da evolução das taxas de poupança até 2050 e a evolução da forma como a poupança do G20 se distribuirá entre os países dá que pensar e projectam claramente onde estarão as fontes de financiamento para o endividamento das economias mais maduras.

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