Passei
uma boa parte da tarde de hoje dividindo-me entre duas coberturas praticamente
on line da cimeira europeia, a do Financial Times (http://blogs.ft.com/the-world/2011/12/eurozone-crisis-live-blog-20/##axzz1fz7KDLDV) e a da Reuters (http://live.reuters.com/Event/Buzz_from_the_European_Summit) e a leitura da declaração dos chefes de Estado ou de Governo da zona euro
(http://consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/ec/126658.pdf).
O sentido dramático da cimeira, provocado pela rotura e
isolamento do desajeitado (expressão que domina uma larga percentagem dos
comentários) Cameron no processo de negociação, penaliza uma interpretação mais
ampla dos resultados. Ao que parece, a posição do Reino Unido não terá sido
determinada por críticas sólidas ao processo de governação democrática das
decisões. Terá sido, antes pelo contrário, determinada pela defesa dos interesses
do sistema financeiro da City londrina. Terá também eventualmente
sobrevalorizado o aparente apoio inicial de alguns países às dúvidas de Cameron,
designadamente dos 10 países não pertencentes à zona euro, que se esfumou num ápice.
As sequelas da rotura e isolamento do Reino Unido abrem, por si só, um vasto
campo de indeterminações que podem ir até à implosão da própria União Europeia
configurada a 27. Tem sentido dramático, mas não é novidade. O Reino Unido sempre
pareceu mais focado na lógica do mercado interno europeu do que no
aprofundamento da governação da União Europeia. O alinhamento com as posições
da City penaliza fortemente o impacto que a rotura de hoje poderia representar
em termos de alerta quanto ao processo democrático da União. Resta a
curiosidade de saber se o próximo passo da dinâmica política interna britânica
será ou não um referendo sobre a continuidade da sua presença na UE.
Mas para além do drama central, a trama da indeterminação
persiste. A leitura da declaração confirma que as posições de Draghi dos últimos
dias foram premonitórias. O jargão do economês da zona euro ganhou um novo must
– o “fiscal compact”. Draghi parece bem mais interveniente do que Trichet. As
suas posições estão bem expressas no documento. Para além disso, surgem posições
alemãs bem identificadas: maior disciplina fiscal; equilíbrio orçamental como
regra constitucional ou equivalente; aprofundamento dos procedimentos por défices
excessivos; reforço limitado do poder de intervenção de Fundo de Estabilidade e
Equilíbrio Financeiro e sua posterior transformação no Mecanismo Europeu de Estabilidade
(este último com maioria qualificada de 85% no processo de decisão); não extensão
da co-responsabilização do sector privado em resgates financeiros adoptada para
o caso grego; nenhuma abertura, por mais ténue que seja, à emissão de títulos
de dívida conjuntos, mesmo que condicionais e nula referência a um papel mais
activo do BCE.
A ortodoxia alemã, agora representada sob a forma de acordo
internacional assinado a 26 ou a 23, consoante algumas consultas a parlamentos
nacionais, o mais tardar até Março de 2012, parece ter ganho o foco da discussão.
É neste contexto de mais do mesmo que emerge do drama artificial alimentado pela
rotura do Reino Unido que devem ser compreendidas algumas reacções de desagrado
pelo resultados da cimeira:
- · Uma reacção entre os conservadores: “A Grã-Bretanha está tão isolada da Europa como um passageiro que recusa entrar no Titanic antes deste zarpar”;
- · No New York Times (http://www.nytimes.com/2011/12/10/business/global/european-leaders-agree-on-fiscal-treaty.html?hp) : “Um tratado para salvar o euro pode cindir a Europa”;
- · Wolfgang Munchau no Financial Times (http://blogs.ft.com/the-a-list/2011/12/09/the-only-way-to-save-the-eurozone-is-to-destroy-the-eu/) : “A única maneira de salvar a zona euro é destruir a União Europeia; “tudo o que fizeram nas primeiras horas de hoje sexta-feira foi criar uma nova crise sem resolver a existente”;
- · Na Reuters: uma cimeira europeia desastrosa (Felix Salmon - http://blogs.reuters.com/felix-salmon/2011/12/09/europes-disastrous-summit/)
Continuo muito curioso sobre os desenvolvimentos que os
resultados da cimeira vão determinar em matéria de debate político interno e de
validação em sede de parlamentos nacionais e de algumas maiorias políticas instáveis
(Holanda, por exemplo). Parece não estarmos perante alterações menores de
tratados existentes. Entretanto, pela hora em que escrevo não há sinais
evidentes por parte dos enigmáticos mercados. O que parece contrariar o tom
grandioso com que alguns líderes europeus apresentaram os resultados.
Os enigmáticos mercados não são mercados. São pecados. Mas:
ResponderEliminarhttp://www.lemonde.fr/economie/article/2011/12/09/les-bourses-europeennes-en-hausse-dopees-par-l-accord-de-bruxelles_1616251_3234.html
Já agora:
ResponderEliminarhttp://olinguado.blogspot.com/2011/12/reinventar-tordesillas.html