terça-feira, 6 de dezembro de 2011

RECUO DE MERKEL … CEDÊNCIA A QUEM?


No rescaldo da conferência de imprensa de ontem de Merkel e Sarkozy e na antecâmara da próxima cimeira, os aspectos já conhecidos da proposta Merkosy suscitaram a controvérsia esperada.

Em termos similares ao que neste espaço já exprimi, José Pacheco Pereira lançou hoje e bem o tema da necessidade de um referendo interno para validar ou contrariar as alterações de tratados que a proposta pressupõe, designadamente a submissão da política orçamental (depois de perdida a autonomia da política monetária na sequência da entrada na zona euro) à governação centralizada de Bruxelas, ou mais propriamente de Berlim ou da bondosa referência ao eixo Berlim-Paris. Espero bem que o inseguro e desautorizado Seguro pugne por esta perspectiva como forma de clarificação democrática e que não se abrigue de novo sob a protecção de uma pretensa invocação do interesse nacional.

Mas a controvérsia mais intensa foi alimentada em torno da decisão de preservar o sector privado da co-responsabilização pela eventual reestruturação de dívidas soberanas. A situação observada a propósito do resgate grego com o corte da dívida e assumpção de responsabilidades por parte do sector privado é considerada pela proposta Merkosy como não repetível e excepcional.

Conhecendo a porfiada resistência alemã ao reconhecimento dessa componente do resgate financeiro grego, pode considerar-se que a proposta a apresentar à cimeira representa uma cedência de Merkel. A quem, pode perguntar-se? Essencialmente, à ortodoxia do BCE, que sempre considerou a participação do sector privado na co-responsabilização dos eventuais resgates financeiros como um factor de amplificação da instabilidade financeira. Sendo assim, a resistência de Merkel a uma intervenção mais rápida na situação grega pode ser entendida como um factor de agravamento incontrolável dessa situação.


Ora, entre os economistas, a decisão de não envolver o sector privado na co-responsabilização pelos resgates financeiros é largamente controversa. No Economist’s View de hoje (não confundir com o The Economist (http://economistsview.typepad.com/), Felix Salmon chega a ser brutal: “Se este princípio ficar consagrado em algum tratado, será uma das mais loucas negligências fiscais de homens de estado que o mundo já alguma vez viu …”. Os mercados agradecem esta deferência. É assim que pode ser interpretada a descida operada, segunda-feira, 5 de Dezembro, nas taxas italianas a 10 anos:


Não foi certamente a comoção lacrimosa da Ministra do Trabalho italiana e o ar compungido do Primeiro Ministro Monti, apresentando o programa de austeridade, que determinaram este comportamento dos mercados.

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