quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

DE ULRICH A OSBORNE


Ulrich: "Corte de crédito à economia pode ser de 36 mil milhões até 2014"
29 Novembro 2011 | 19:29
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt

As intervenções públicas de Fernando Ulrich têm-se revelado, nos tempos mais recentes, auxiliares preciosos para compreender o modo como a banca portuguesa perspectiva a abordagem em curso à estabilização do sistema financeiro colocada em cheque pela crise das dívidas soberanas. Os testemunhos públicos dos restantes CEO bancários são mais opacos, querendo talvez significar que dispõem de outras armas (mais ocultas) para procurar influenciar os acontecimentos e a decisão política. Por isso, se expõem menos. Pelo contrário, pela sua acutilância, as posições de Ulrich são recursos cruciais para entender o que se vai passando.

Na conferência da APGEI, “Caminhos para a Competitividade: Reindustrialização e Internacionalização”, a mensagem de Ulrich vem ao encontro do que, neste espaço de opinião, tenho considerado ser uma das mais sérias incapacidades internas da terapia em curso. Curto e grosso, o que Ulrich nos diz é que os objectivos de desalavancagem impostos à banca tenderão inexoravelmente a traduzir-se em reduções de crédito. Essa redução tenderá, nas melhores condições, a representar uma redução de cerca de 16, 2 mil milhões de euros de crédito às empresas, pressupondo uma evolução dos depósitos alinhada com a inflação. Em meu entender, essa redução atinge mortalmente a retórica do crescimento económico que rodeia o programa da Troika.

Na vertigem de cobertura deste tema que a imprensa internacional nos oferece, não posso deixar de articular a intervenção de Ulrich com a análise crítica que alguma imprensa inglesa (particularmente o Guardian) tem realizado da governação económica Tory, particularmente do seu Ministro das Finanças (Chancellor), George Osborne. A economia britânica, também na sequência do modelo de consolidação orçamental abrupta, enfrenta hoje uma anemia de crescimento que, rapidamente, irá consumir a vantagem de, nos últimos tempos, ter-se podido financiar a taxas mais baixas do que a própria economia alemã. Ora, no sentido de contrariar essa anemia, a política do tesouro britânico tem consistido na facilitação do crédito, cujo último passo foi estimado em 40 mil milhões de libras, destinado a empréstimos a pequenas e médias empresas.

Simon Jenkins, jornalista do Guardian, critica em termos curiosos (www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/nov/29/trust-in-banks-risk-that-failed) essa preferência pelo crédito bancário em detrimento da despesa: “Perguntem a um qualquer homem de negócios se preferem um banco emprestador a um consumidor com capacidade de despesa e ele optará por este último. Ele prefere vender ao empréstimo. As vendas geram empréstimos; os empréstimos não geram vendas.” O que Jenkins sublinha é que, na ausência de uma interferência directa na política bancária de distribuição do crédito, a recuperação por via deste mecanismo é sempre mais incerta e sujeita a desvios do que a revitalização da despesa.

Mas, o que Robert Skidelski, biógrafo emérito de Keynes, nos diz  (http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/nov/29/cutting-fantasy-over?INTCMP=SRCH) é que a facilitação do crédito se apresenta como uma política de aumento da oferta de crédito no seio de uma política global que, contraditoriamente, reduz a sua procura, reduzindo o mercado. Pura inconsistência. A credibilidade da política de redução de défices por si só é endogenamente ameaçada. Considerá-la de per si um factor de confiança nos mercados transforma-se rapidamente numa aposta arriscada.

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