Só o dever e o gosto de assinalar a entrevista de um grande pensador – George Steiner (“L'Europe est en train de sacrifier ses jeunes”, Télérama, http://www.telerama.fr/idees/george-steiner-l-europe-est-en-train-de-sacrifier-ses-jeunes,75871.php) – me poderia levar a interromper assumidamente estas semanas de ausência, não só virtual mas também física.
Contenho-me na eloquência desta passagem: “No estado actual, é possível [o colapso da Europa]. Mas vamos sair desta situação de uma forma ou de outra. Irónico é a Alemanha poder voltar a dominar. É um passo atrás. Entre Agosto de 1914 e Maio de 1945, a Europa, de Madrid a Moscovo, de Copenhaga a Palermo, perdeu quase 80 milhões de pessoas em guerras, deportações e campos de extermínio, fome, bombardeamentos. O milagre está em que sobreviveu. Mas a sua ressurreição foi apenas parcial. A Europa está a passar por uma crise dramática; está a sacrificar uma geração, a dos seus jovens, que não acreditam no futuro. Quando eu era jovem, havia esperanças para todos os gostos: o comunismo, com certeza! O fascismo, que foi também uma esperança, não nos deixemos enganar. E, para os judeus, havia ainda o sionismo. Havia ideologias aos montes... Isso já não existe. Ora, quando a juventude não é tomada por uma esperança, mesmo que ilusória, o que resta? Nada.”
E já que, coincidentemente, se encerra hoje o ano, junto um calendário de 2012 (publicado no “24 Heures” de Lausana por Raymond Burki) e não resisto a contrastá-lo com “A Ideia de Europa” com que Steiner nos brindou em 2004. Começava assim essa exaltação da cultura e da memória: “A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo.” E concluía: “É porventura apenas na Europa que as fundações necessárias de literacia e o sentido da vulnerabilidade trágica da condition humaine poderiam constituir-se como base [do sonho novamente sonhado].” Bom Ano Novo!
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