Antes de mais Bom
Ano de 2012 a todos os que têm acompanhado este blogue, apesar das tormentas
que se avizinham e da fragilidade da navegação. Saúdo também o regresso à reflexão do Freire de Sousa e com uma ode aos cafés e cafetarias da Europa. Preciosa.
Começo o ano com
uma incursão pelo tema regional que, um pouco surpreendentemente, confesso, tem
tido uma menor frequência de reflexão do que eu próprio imaginaria. Mas a premência
da questão macroeconómica explica a situação.
Em oposição
frontal a algum regionalismo bacoco tenho defendido que os problemas do Norte
constituem uma questão nacional e não simplesmente regional. Os fundamentos da
minha argumentação situam-se sobretudo na natureza da mudança estrutural a que
a Região está sujeita, sobretudo do seu aparelho produtivo mais exposto ao
exterior. Por outras palavras, no Norte projetam-se com clareza e maior
intensidade os problemas nacionais de mudança do nosso modelo de crescimento:
passagem de um modelo com elevada capacidade de criação de emprego
desqualificado para um outro menos exuberante na criação de emprego e capaz de
incorporar mais conhecimento e qualificações. Trata-se, por isso, de uma questão
nacional e não simplesmente regional. O que não é indiferente em termos de
mobilização de meios e de políticas públicas.
A recente publicação
dos dados do 3º trimestre do Norte Conjuntura (edição CCDRN) vem confirmar em
parte o sentido da minha argumentação. Destaco dois elementos de reflexão, um
respeitante ao mercado de trabalho, outro relativo ao comportamento das
exportações.
Trabalhando alguns
números relativos ao primeiro domínio, o quadro seguinte é extremamente
informativo:
Variáveis
|
3º Trim. 2009
|
3º Trim. 2010
|
3º Trim. 2011
|
Taxa de desemprego (%)
|
|||
Portugal
|
9,8
|
10,9
|
12,4
|
Norte
|
11,6
|
13,2
|
12,7
|
Taxa de desemprego de jovens (15-24)
(%)
|
|||
Portugal
|
19,2
|
23,4
|
30,0
|
Norte
|
21,5
|
24,6
|
27,6
|
Taxa de desemprego de indivíduos com
formação superior (%)
|
|||
Portugal
|
7,7
|
7,8
|
9,4
|
Norte
|
8,4
|
9,2
|
10,8
|
Proporção de desempregados há 1 ano
ou mais (%)
|
|||
Portugal
|
46,3
|
55,7
|
51,7
|
Norte
|
49,1
|
55,7
|
51,5
|
Taxa de emprego (15-64) anos (%)
|
|||
Portugal
|
65,8
|
65,5
|
64,5
|
Norte
|
64,0
|
63,0
|
63,6
|
Fontes: Inquérito ao Emprego, INE;
Norte Conjuntura, CCDRN
|
A dimensão
estrutural do desemprego emerge com nitidez e aproxima-se dos valores nacionais,
com oscilação no desemprego de jovens e de indivíduos com formação superior. O
mercado de trabalho da Região mimetiza, assim, os problemas estruturais
nacionais, agora com o impacto da austeridade recessiva.
Quanto ao comportamento das exportações, o bom
desempenho das indústrias tradicionais, com o calçado à cabeça, ilustra também
um argumento que tenho frequentemente utilizado. Há uma capacidade de resiliência
instalada, mais ao nível de empresas concretas do que em termos de sectores de
atividade. A mudança estrutural opera mas lentamente. Aliás, isso é também
observável no comportamento promissor do emprego na indústria transformadora
(crescimento homólogo neste trimestre de 6,7%). O turismo resiste o que é uma
boa notícia.
É fundamental que
o mito da austeridade expansionista não aniquile precocemente esta resiliência
e mudança estrutural em curso. Vozes mais críticas argumentarão que esta
resiliência é limitada, pelo facto de se circunscrever aos setores de
especialização mais tradicional. Porém, esta resiliência, apesar de limitada a
estes setores de atividade, cumpre uma função crucial: (i) minimiza os efeitos
de destruição de emprego que a mudança estrutural tenderá a intensificar; (ii)
permite ganhar tempo para que as empresas de base tecnológica emergentes e o
empreendedorismo associado possam consolidar-se, juntar-se ao processo em curso
e começar finalmente a influenciar os dados de exportação, da produtividade e
da criação de emprego mais qualificado. Não é uma função menor. Cumpre um papel
crucial em todo o processo.
Finalmente, tal
como vem sendo observado a nível nacional, todos os indicadores respeitantes ao
setor de não transacionáveis (serviços e construção, essencialmente) começam a
revelar quão penosa vai ser a desaceleração desse tipo de atividades, com a
restrição de crédito a comandar o processo.
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