sábado, 14 de janeiro de 2012

REGRESSO À ESTACA ZERO?


Afirmava no post anterior que a ideia da estabilização provisória da situação no interior da zona euro sugerida pela conferência de imprensa de Draghi era ilusória. Bastou a movimentação de mais uma agência de rating, atingindo não apenas os países do sul da Europa, mas agora também a França e a Áustria, para baralhar de novo a situação e fazer regressar a instabilidade já conhecida.
E a análise dos poucos elementos de informação disponível evidencia que a questão estará para além da decisão da S&P. Claro que o inefável editor de economia da SIC, Gomes Ferreira, com pose de candidato a estadista de circunstância decretou imediatamente tratar-se de pura geoestratégia política, por outras palavras, uma mãozinha de interesses obscuros em torno do dólar terá atuado uma vez mais. É perturbador o modo como os nossos analistas variam a sua posição em relação às agências de rating em função do tipo de situações. De conselheiras (quem me avisa …) até a instrumentos de pura guerra económica e financeira a opinião salta com facilidade.
Mas há um outro elemento que evidencia bem a relação de forças por detrás de tudo isto. A sucessiva elaboração de versões draft do chamado Pacto Fiscal (DRAFT TREATY ON STABILITY, COORDINATION AND GOVERNANCE IN THE ECONOMIC AND MONETARY UNION) terá merecido do Banco Central Europeu uma viva reação marcando de novo o que está efetivamente em discussão. O ponto de discórdia frontal noticiado girou em torno da consagração de uma regra constitucional para a estabilidade orçamental. Mas não é claro que o tenha sido. De acordo com uma das referidas versões draft, designada como draft 3, que me surgiu no motor de busca do Google, datada de 12.01.2012, 19.00, não me parece que tenha sido apenas essa a matéria de oposição. Na alínea c) do artigo 3º da versão identificada, pode ler-se que “Os signatários podem temporariamente desviar-se do seu objetivo de médio prazo em casos de um acontecimento anormal fora do controlo do país com impacto na situação financeira do Governo ou em períodos de recessão económica severa como está definido na versão revista do Pacto de Estabilidade e Crescimento, desde que isso não perturbe a sustentabilidade fiscal a médio prazo”.
O Financial Times cita um membro da direção executiva do BCE segundo o qual essa formulação poderá equivaler a uma escapatória. A ortodoxia do BCE está viva e para durar. Veremos nos próximos dias, sem essa garantia assegurada, como reage o BCE à instabilidade que a descida dos ratings atrás assinalada irá provocar.

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