Duas capas da “Time Magazine” (edição americana) separadas pela distância temporal de um mês, estando a da esquerda datada de 12 de Dezembro de 2011 e correspondendo a da direita à “current issue” marcada como de 16 de Janeiro de 2012 – “what difference a month makes”, refere-se no “site” (www.buzzfeed.com) em que é evidenciada esta curiosidade tão chamativa e auto-impositiva que torna praticamente irrelevante o que quer que tenha estado no espírito último do editor…
Quanto à matéria propriamente dita, é cedo para que aqui a exploremos em demasia. As eleições são só em Novembro e apenas acabamos de saber que o milionário e mórmon Mitt Romney venceu por oito votos as ditas pressagiadoras primárias de Iowa e se apresenta como o favorito à nomeação republicana. A boa notícia é que assim terá contribuído para afastar o ultra-conservador e caricato movimento “Tea Party” das suas veleidades de chegar ao poder. A má notícia é que o ex-governador de Massachusetts parece ter os rins demasiado propensos a uma adaptação à inquietante deriva extremista do Partido Republicano.
Com efeito, e ao que dizem vários comentadores, o candidato teve em Boston uma governação moderada e razoavelmente aberta, quer em relação a ortodoxias anti-estatais/ultra-liberais quer quanto a alguns dos chamados temas da actualidade (do ambiente aos direitos das minorias). Assuntos sobre os quais as suas declarações e intenções programáticas parecem ir em sentido amplamente revisionista – referindo exemplos significativos:
· “My view is that we don’t know what´s causing climate change on this planet. And the idea of spending trillions and trillions of dollars to try to reduce CO2 emissions is not the right course for us.”
· “I am pro-life and believe that abortion should be limited to only instances of rape, incest, or to save the life of the mother.”
· “I believe we need to focus on enforcing our current laws rather than creating new laws that burden lawful gun owners.”
· “In the middle, I believe, are others who could support the death penalty if it is narrowly applied and contains the appropriate safeguards.”
· “(…) to do a better job of securing its borders, and as president, I will.”
· "My view is, we ought to double Guantanamo."
· “Our next president must repeal Obamacare and replace it with market-based reforms that empower states and individuals and reduce health care costs.”
· “The Bush tax cuts helped get our economy going again when we faced the last tough times.”
Mais assustadora ainda, pensando sobretudo à escala do mundo, é a leitura da estratégia de política externa do provável concorrente presidencial, sugestivamente apelidada “An American Century”. Limito-me a respigar curtas ilustrações do “setting a new tone” que tal documento proclama:
· “Mitt Romney’s comprehensive strategy has this principle at its core: a strong America is the best ally world peace has ever known. President Reagan called this ‘Peace through Strength’ (…)”
· “(…) when America is strong, the world is safer. (…) Mitt Romney will restore the three foundations of American power: strong values, a strong economy, and a strong military.”
· “Mitt Romney will work closely with Israel to maintain its strategic military edge (…). The United States will reduce assistance to the Palestinians if they continue to pursue United Nations recognition (…).”
· “Mitt Romney believes that it is unacceptable for Iran to possess a nuclear weapon. (…) In his first 100 days, make clear that the military option is on the table by ordering the regular presence of an aircraft carrier task force in both the Eastern Mediterranean and the Persian Gulf region simultaneously.”
· “Mitt Romney will discuss with China how the international community will address the humanitarian and security issues that will arise should North Korea disintegrate.”
· “Mitt Romney will: in his first 100 days, order a full interagency review of our transition in Afghanistan.”
· “Mitt Romney will reset President Obama’s “Reset” with Russia.”
· “Mitt Romney will implement a strategy that makes the path of regional hegemony for China far more costly than the alternative path of becoming a responsible partner in the international system.”
Perante um cenário tão inquestionavelmente perturbador – e pense-se o que se pensar de Obama ou faça-se sobre o seu mandato (decepcionante?) o balanço que se fizer –, tenderá rapidamente a consolidar-se do seu lado a larga maioria da comunidade e da opinião pública internacional e o correspondente desejo de que o arejamento nova-iorquino prevaleça eleitoralmente sobre a tacanhez da América profunda…
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