quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

SENADORES DESINSPIRADOS


Expectativas elevadas precederam o programa de ontem à noite na SIC Notícias, conduzido por Ana Lourenço: António Barreto, António Vitorino, Francisco Balsemão, Manuel Sobrinho Simões, Manuela Ferreira Leite é um grupo de peso. Não tenho a certeza absoluta, mas Ana Lourenço terá usado mesmo a expressão “senadores”, num ambiente de reverência plena para com os convidados, aliás retribuído.
Mas a evolução do programa defraudou as expectativas. Com a sua inteligência, lucidez e simpatia natural, Manuel Sobrinho Simões fez a diferença, criando um espírito de empatia que nenhum dos restantes senadores é capaz de acompanhar. O seu chiste inicial de sublinhar que não sabia se estaria ali “pela quota do Norte ou pela da ciência dura” é genial. A referência aos números (PORDATA) de António Barreto prolongou esse ambiente. Os restantes senadores estiveram desinspirados. O síndroma da desinspiração do País parece transmitir-se aos seus senadores.
Manuela Ferreira Leite continua a não estar “ à l’aise nestas coisas” e tem à pega pelo menos a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais. Entre tantos domínios para exercitar as economias de eficiência no Sistema Público de Saúde, a Senhora teria de escolher logo um dos mais delicados do ponto de vista social. Que pontaria. Não é por acaso que ficará ligada a uma das ideias mais controversas da nossa democracia: a interrupção da mesma em períodos críticos de mudança.
De Francisco Balsemão, homem da comunicação, não me recordo de alguma ideia que justificasse o tempo de antena em casa própria.
António Barreto, cada vez mais enredado no síndroma dos 70, parece considerar que a sua referência ao alongamento necessário do período de resgate é o seu contributo para uma saída positiva de tudo isto. O que parece uma evidência reconhecida desde o início pelo homem mais comum, António Barreto transforma-a numa ideia de fundo. Mas no fundo, com capacidade de risco de análise muito reduzida, parece estar mais próximo de uma posição à “Medina Carreira” do que interessado em explorar alguns resultados da investigação financiada pela Fundação que dirige.
António Vitorino também já terá tido dias melhores. A erosão da televisão é forte. O seu contributo para que a questão europeia tenha no plano político nacional uma outra projeção, já que do Governo nem vê-la, deveria ser bem mais incisivo. O síndroma do “PS negociador do resgate financeiro” parece também influenciar a sua capacidade de proposta.
De tudo isto, fica a sensibilidade social de Manuel Sobrinho Simões, a perceção do que é eminentemente estrutural (mesmo sem números do PORDATA) na sociedade portuguesa (o envelhecimento, por exemplo) e o seu domínio de uma das interfaces mais poderosas para um outro País – a ciência e a saúde.
Creio também ter sido de sua lavra um termo que, em meu entender, surge pela primeira vez no léxico do debate sobre a crise: o racionamento de bens públicos com amplo debate e escrutínio político. Novas escolhas públicas, diria.

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