Tem passado injustamente despercebida a publicação, em final do ano passado, de um livro essencial da autoria do programador cultural e professor universitário António Pinto Ribeiro (APR) – “Questões Permanentes – ensaios escolhidos sobre cultura contemporânea”, Livros Cotovia.
Tratando-se da junção de textos escritos ao longo dos últimos quinze anos (“obra-tese”), o livro acompanha muito do que foi a evolução da cultura em Portugal nesse período. Mas, tão importante ou mais do que isso, é o facto de os ensaios de APR terem “espessura” e mundo dentro de si, apontarem precisamente para aquilo de que mais carenciado está o estranho Portugal em que vivemos sob a égide de “elites” confrangedoramente provincianas e incompetentes – viagens, cidades, livrarias… Cito duas passagens:
· “Eu não tenho uma cidade ideal. A minha cidade ideal é uma cidade de cidades, uma colagem de lugares. É assim que eu vejo o rio Tejo e as varandas que para ele dão ladeando os arranha-céus de Hong Kong, em especial o Banco da China de LiPen, nas margens do Mar das Pérolas; o Banco faz esquina com a rua das livrarias do Rio de Janeiro, a mesma do China Club de Paris que, nesta minha cidade, fica defronte dos Jardins de Luxemburgo, no centro dos quais se encontra o café Pullmans de Utrecht, com vista para a 9 de Julho de Buenos Aires, morada do Museu de Fotografia de Arles, cujo portão abre para as termas de La Garriga, ao lado das quais fica a Biblioteca de Nova Iorque na Rua 42, perpendicular à Avenida Eduardo Mondlane do Maputo, lugar do colorido mercado de Hanói, vizinho do mercado de Barcelona e da Piazza de la Signoria defronte da esplanada do Sporting Clube de Beirute, de onde de avista o Mediterrâneo.”
· “O que uma cidade pode prometer como futuro aos seus habitantes está inscrito nas livrarias que tem. Da sua quantidade, da sua diversidade, da organização e da beleza das suas montras e prateleiras, do modo como estão organizados e são anunciados os conteúdos dos livros pode-se inferir a qualidade das expectativas de que os cidadãos dispõem. (…) Uma livraria é, por tudo isto, um lugar onde outros homens e mulheres disponibilizaram – mediante um ato elementar de comércio que é já por si um ato de troca, logo de comunicação – as suas visões do mundo, assim cruzando mundos inimagináveis.”
· “Eu não tenho uma cidade ideal. A minha cidade ideal é uma cidade de cidades, uma colagem de lugares. É assim que eu vejo o rio Tejo e as varandas que para ele dão ladeando os arranha-céus de Hong Kong, em especial o Banco da China de LiPen, nas margens do Mar das Pérolas; o Banco faz esquina com a rua das livrarias do Rio de Janeiro, a mesma do China Club de Paris que, nesta minha cidade, fica defronte dos Jardins de Luxemburgo, no centro dos quais se encontra o café Pullmans de Utrecht, com vista para a 9 de Julho de Buenos Aires, morada do Museu de Fotografia de Arles, cujo portão abre para as termas de La Garriga, ao lado das quais fica a Biblioteca de Nova Iorque na Rua 42, perpendicular à Avenida Eduardo Mondlane do Maputo, lugar do colorido mercado de Hanói, vizinho do mercado de Barcelona e da Piazza de la Signoria defronte da esplanada do Sporting Clube de Beirute, de onde de avista o Mediterrâneo.”
· “O que uma cidade pode prometer como futuro aos seus habitantes está inscrito nas livrarias que tem. Da sua quantidade, da sua diversidade, da organização e da beleza das suas montras e prateleiras, do modo como estão organizados e são anunciados os conteúdos dos livros pode-se inferir a qualidade das expectativas de que os cidadãos dispõem. (…) Uma livraria é, por tudo isto, um lugar onde outros homens e mulheres disponibilizaram – mediante um ato elementar de comércio que é já por si um ato de troca, logo de comunicação – as suas visões do mundo, assim cruzando mundos inimagináveis.”
Pelo meio, ficam ainda múltiplos contributos relevantes para a reflexão em variadas direções, entre arte, cultura, programação, estratégias culturais, Portugal, política cultural europeia, poder, democracia, esquerda e direita, indústrias criativas, questões urbanas, diversidade, mobilidade, multiculturalismo e cosmopolitismo. E, no fim, apresenta-se a pessoa que está por trás (“Autobiografia com muitas fantasias”): “E é assim uma história cheia de pessoas, cidades, produção e textos; textos com questões permanentes.” A não perder…
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