O que os números do gráfico nos sugerem é que a criação líquida de emprego (criação menos destruição de postos de trabalho) em quase duas décadas acontece praticamente apenas nos setores de atividade abrigados da concorrência internacional, em regra designados de não transacionáveis. Por outras palavras, a criação líquida de postos de trabalho nos serviços e em atividades como a construção civil esmaga praticamente em termos comparativos a criação líquida de postos de trabalho nas atividades em que a economia americana compete no mercado interno e no exterior com outras economias exportadoras.
Vários fatores podem contribuir para esta evidência. As atividades não transacionáveis são mais dificilmente campo de outsourcing de produção, tendendo por isso a manter-se em território americano e destruindo emprego apenas em função do comportamento expansivo ou recessivo da procura global interna americana. O mesmo não acontece nas atividades transacionáveis, pelo menos naquelas que operam com rotinas mais padronizadas, suscetíveis de serem executadas noutras paragens com custos salariais mais baixos. Noutro plano, pode também dizer-se que parte da economia americana transacionável consegue competir ou deslocalizando para outras paragens (destruindo por isso emprego internamente) ou para o fazer a partir do território americano é obrigada a destruir mais emprego do que cria na sequência das opções tecnológicas que tem que assumir.
Quer isto significar que estes números representam também um outro plano da aparentemente paradoxal quebra de competitividade da economia americana nos últimos tempos.
Com base na informação do World Development Indicators do Banco Mundial, elaborei um gráfico simples que descreve o comportamento da balança de transações correntes (milhões de dólares) da economia americana no período de 1990-2008. É de facto impressionante o agravamento do défice externo da economia americana.
Por isso, os números da criação de emprego na base não transacionável da economia americana explicam-se não apenas pela dimensão gigantesca do mercado interno americano, mas também pela capacidade dos americanos encontrarem financiamento externo para tamanho agravamento do seu défice externo corrente.
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