Mas num recente artigo publicado no Project Syndicate, uma das referências de consulta assinaladas no nosso blogue, Feldstein comenta com frieza a já aqui também comentada notícia em torno das negociações em curso em torno do acordo /tratado sobre o pacto fiscal para a zona euro. As posições alemãs, veiculadas por altos dirigentes do BCE, apontariam para só fossem permitidos subidas no défice público acima do limite de 0,5% de peso no PIB em situações de “catástrofes naturais e situações de emergência severa fora do controlo dos governos”. A sua conclusão é cristalina: “se for implementada, esta proposta determinará elevadas taxas de desemprego e nenhum caminho para a recuperação – em resumo, uma depressão. Na prática, esta política tem de ser violada, alias tal como o velho Pacto para a Estabilidade e Crescimento foi abandonado quando a França e a Alemanha desafiaram as suas regras e não sofreram quaisquer penalidades”. Cristalino, não é? E acrescenta que “não é claro o que poderá por cobro a esta espiral descendente de austeridade fiscal e de redução da atividade económica”.
Este artigo configura bem a tese avançada neste blogue que as posições mais contundentes sobre a miopia europeia têm emergido do interior do sistema e não por via de economistas desalinhados. Feldstein personifica exemplarmente o primeiro grupo de posições.
Mas não ficamos por aqui. No Business Insider de ontem, Marshall Auerback, um analista de mercado e portanto sem a força de opinião de Feldstein afirmava num artigo que recomendo: “A minha opinião é que as descidas de rating provocam um círculo vicioso nos países que acabarão por adotar políticas que colocarão as suas economias num risco ainda mais elevado do que já estão. A razão para isso é que na Europa o desequilíbrio da estrutura financeira (leia-se na minha opinião indefinição do papel do BCE) não pode ser resolvido por medidas de austeridade porque essa estrutura não é capaz de lidar com choques externos significativos na procura de bens e serviços”.
Pelos vistos, a distância que o Atlântico possibilita permite ver melhor coisas que a miopia endógena do mainstream da política económica europeia teima em não ver ou pelo menos a ver desfocadas. E não é apenas um problema de óculos …
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