sábado, 7 de janeiro de 2012

NOTÍCIAS DAS AMÉRICAS (2)

Deixo aqui de lado o México e a América Central, realidades com especificidades muito próprias e que atravessam actualmente uma fase complexa e difícil: no primeiro caso, e após anos de “sucesso e prosperidade” que conduziram o país ao estatuto de “case study” e de membro da OCDE, na sequência do conturbado esgotamento de um modelo de governação política e do recrudescimento de problemas de violência organizada e narcotráfico; no segundo caso, evidenciando uma situação de instabilidade já demasiado prolongada no tempo e que tem impedido soluções políticas democráticas e desenvolvimentistas. Deixo ainda de fora as inúmeras excrescências (a este nível macro de análise e sem qualquer intenção normativa) insulares em presença.

Foco-me, deste modo, num olhar dirigido de relance ao sub-continente América do Sul e seus 12 Estados independentes. O mapa político-territorial junto fala por si: cerca de metade é Brasil, quase dois terços são Brasil e Argentina; quatro mais um países médios não chegam a 30% (Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e Chile); cinco países pequenos só valem, conjuntamente, 6% (Paraguai, Equador, Guiana, Uruguai e Suriname).

Uma constante para estas quase 400 milhões de almas em apreço é o facto de viverem, em média, bastante abaixo do padrão dos mais ricos à escala global (o PIB per capita médio na OCDE ultrapassa em 3,5 vezes o maior da Região) e, também, muito desigualmente entre si (tanto inter-nacionalmente como intra-nacionalmente); é assim que, e ainda segundo os dados do Banco Mundial, enquanto a Venezuela e o Uruguai se apresentam circunstancialmente (razões rentistas e financeiras) como os países de nível de vida médio mais elevado, logo seguidos de Chile, Brasil e Argentina, as posições intermédias (50% face ao Chile) de Suriname, Colômbia e Peru contrastam com as posições mais débeis de Equador, Guiana, Paraguai e Bolívia (esta com menos de 20% face ao Chile).

Neste quadro, as dinâmicas de integração regional (Mercosul à cabeça) têm funcionado como lhes é próprio, i.e., sob o comando dominante das leis do mercado e sujeitas a uma mescla conjuntural de efeitos secundários decorrentes de políticas voluntaristas mais ou menos erráticas ou consequentes. Esta hierarquia condiz com o sentimento empírico que se obtém no local e grosseiramente sintetizo: a dimensão de Brasil e Argentina é central e vai suportando os “seus” parceiros mais pequenos (Uruguai e Paraguai), enquanto é a racionalidade estratégica que mais vai gerando dividendos na zona da Comunidade Andina (Chile e, recentemente, as “estrelas” da moda, Colômbia e Peru, com taxas de crescimento de 5,5 e 7%, versus os mais politicamente instáveis e paralisados Equador e Bolívia, não obstante a ajuda dos petro-dólares de Chávez).

Mas há que ter também presentes os que parecem ser sinais de uma “excepção argentina”, em linha com as fortes sequelas deixadas pela crise financeira e política de início do século e sem prejuízo de indicadores contraditórios – deixarei esta questão e mais alguns “detalhes”, que espero não despiciendos em torno da política, da democracia, da economia e do desenvolvimento, para equacionação/tratamento em próximos posts. Tudo na expectativa de servir, também e se possível, de mote inspirador de contributos provenientes do conhecimento longamente estabelecido pelo meu amigo António Figueiredo…

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