Encontrei no El PAÍS um artigo à medida, “Mourinho sí escucha al madridismo”, sobre o qual posso construir uma tese simples: afinal não entenderam nada.
O artigo parte de uma das controversas afirmações de Mourinho a semana passada, quando ele responde a um jornalista dizendo que compreende o madridismo mas não o escuta. Sublinho um excerto, em tradução mais ou menos livre: “Só o interrutor de Mourinho nos últimos tempos fez com que o jogo parecesse extraordinário. Na realidade, com a história na mão, descontado este período, o Real foi o Real. Um conjunto valente, decidido, carregado de fé e talento, sempre com os olhos na frente. Sem amarras, com as linhas juntas e Pinto (guarda redes do Barça) no ponto de mira, a equipa de branco tomou o pulso ao seu adversário como nunca o havia feito”.
Repito, não compreenderam nada. O que teria acontecido então seria uma espécie de regresso a uma mística dos velhos tempos, ao velho Real, de ataque avassalador, um hino madrileno: “Mourinho não tomou nota até ontem à noite e a equipa perdeu demasiado tempo na busca de estratégias, dentro e fora do campo, impróprias do seu símbolo e da hierarquia da sua equipa”. Um confronto crucial entre um velho paradigma de abordagem ao jogo (o da mística, da memória, dos símbolos, da superioridade, muito típico de um centralismo como o de Madrid) e um novo paradigma, de estratégia, meticuloso, diria mesmo científico, da preparação exaustiva, que pode integrar a mística mas não é por ela dominado. Mourinho anuncia este novo paradigma. E o que é fascinante não é o confronto com a glória do madridismo. É, pelo contrário, o confronto com o modelo que o Barça representa, que é apaixonante e que terá seguramente cenas de próximos capítulos. E o velho madridismo continuará à margem do que está aqui realmente em jogo. Bastará isto para motivar José Mourinho?
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