Ainda a propósito do regresso da crise e da baixa da notação de 9 países europeus pela Standard & Poor’s – com destaque para a cirúrgica perda de triplo AAA pela França e pela Áustria –, vem de novo à tona a questão do papel desproporcionado e obscuro que as agências de “rating” (CRAs, “Credit Rating Agencies”) assumiram no contexto da deriva financeira do capitalismo e dos mais recentes abalos por ele sofridos.
Um dos dados mais salientes que importa conhecer decorre da estrutura monopolista que caracteriza este negócio: as “big three” (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch) detêm 95% de quota de um mercado que cresceu a mais de 20% ao ano desde 2000 e está globalmente avaliado em cerca de 5 mil milhões de dólares. Se acrescentarmos que as duas primeiras, representando 79% do mercado, revelam significativas sobreposições nas respetivas composições acionistas (veja-se o slide junto, extraído do estudo da consultora de estratégia Roland Berger “Blueprint for an European Rating Agency”, October 2011) e que várias destas entidades operam numa área de instrumentos financeiros (CDS, “credit default swaps”) cuja cotação está direta e positivamente relacionada com os aumentos dos riscos associados às dívidas que garantem, teremos um retrato bem elucidativo da caldeirada (entre conflitos de interesses, fugas à responsabilidade, problemas de qualidade metodológica e de procedimento, incompatibilidades regulatórias, enviesamentos pró-americanos,…) que foi sendo criada.
Um dos dados mais salientes que importa conhecer decorre da estrutura monopolista que caracteriza este negócio: as “big three” (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch) detêm 95% de quota de um mercado que cresceu a mais de 20% ao ano desde 2000 e está globalmente avaliado em cerca de 5 mil milhões de dólares. Se acrescentarmos que as duas primeiras, representando 79% do mercado, revelam significativas sobreposições nas respetivas composições acionistas (veja-se o slide junto, extraído do estudo da consultora de estratégia Roland Berger “Blueprint for an European Rating Agency”, October 2011) e que várias destas entidades operam numa área de instrumentos financeiros (CDS, “credit default swaps”) cuja cotação está direta e positivamente relacionada com os aumentos dos riscos associados às dívidas que garantem, teremos um retrato bem elucidativo da caldeirada (entre conflitos de interesses, fugas à responsabilidade, problemas de qualidade metodológica e de procedimento, incompatibilidades regulatórias, enviesamentos pró-americanos,…) que foi sendo criada.
Atente-se ainda, na mesma linha, na indiciadora e eloquente resposta dada a uma das FAQ’s (“frequently asked questions”) colocadas no sítio da Comissão Europeia acerca da sua proposta legislativa em curso sobre a regulação das CRAs: “as CRAs terão de tornar-se mais independentes face às entidades que notam, em particular:
· uma agência não devia emitir classificações por um período superior a três anos em relação a uma entidade que por elas paguem. (…)
· os analistas-chefe não deviam ser envolvidos na classificação de uma entidade por mais de 4 anos;
· serão limitados os cruzamentos de participações acionistas em CRAs: um acionista com uma participação marcante (mais de 5%) numa agência de notação de crédito não devia ser simultaneamente um acionista relevante (5% ou mais) em outra agência de notação de crédito,
exceto se as duas CRAs pertencerem ao mesmo grupo;
· as CRAs serão proibidas de notar uma entidade em que os seus maiores acionistas (os que detenham mais de 10% do capital ou dos direitos de voto que permitam exercer influência significativa) tenham um interesse financeiro;
· os acionistas que detenham mais de 5% do capital ou dos direitos de voto numa CRA ou, alternativamente, estejam em posição de exercer uma influência significativa sobre as atividades de negócio de uma CRA não devem ser autorizados a prestar serviços de consultoria às entidades notadas pela CRA;
· classificações de duas CRAs diferentes serão requeridas para produtos financeiros estruturados em que tais classificações sejam pagas pelo emitente.”
É disto que se trata quando surgem notícias como as de ontem. O que torna ainda mais lamentável que, por cá, muitos ainda acreditem na “história da carochinha” ou funcionem como na de “Pedro e o lobo”…
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