Uma impressão, que embora me não tenha sido inédita, adquiriu contornos renovados na minha recente estada sul-americana: a de quão pouco plano é o mundo visto dali. Claro que não me refiro, no essencial, às manifestações “friedmanianas” mais óbvias e que tanto pareceram justificar a passagem de “O Lexus e a Oliveira” a “O Mundo é Plano”. O que há, tão-só, é uma sensação algo difusa de autonomia relativa/auto-suficiência, como se narrativas e agendas específicas e dotadas de dinâmicas muito próprias se sobrepusessem naturalmente a tudo o mais à volta do mundo (até a crise europeia paira como um epifenómeno, mais não sendo tratada do que como motivo de perplexidade ou sintoma de envelhecimento!) – tal decorre certamente, entre outras razões mais profundas, de questões de dimensão e concentração de recursos naturais e primários, do grau de desenvolvimento já atingido e da confiança que advém de uma conjuntura económica amplamente favorável (o crescimento médio da zona foi de 4,3% em 2011).
O Brasil, recém-constituído em sexta potência económica mundial (ultrapassando o Reino Unido) e com previsões de crescimento em alta para 2012 (de 2,9% no ano findo para 3,5%), domina claramente o quadro regional, quer em termos absolutos quer relativos. O seu ministro da Fazenda Guido Mantega, entrevistado pelo Globo e pelo Estadão, intitula-se (e ao Governo) “bom desenvolvimentista” e declara sem hesitações que “é preciso ter uma agenda permanente de competitividade” e que “não deixaremos o dólar chegar a R$ 1,60”. Nenhuns “fait-divers” (?) resistem ao alastramento de uma enorme onda de optimismo, venham eles dos sete ministros caídos (seis por corrupção) no primeiro ano de governação de Dilma Rousseff, das incessantes movimentações político-empresariais (sob a alegada batuta de José Dirceu) e políticas (em Outubro, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab apresentou oficialmente o Partido Social Democrático, um “partido apartidário” que é o 28º a existir no país e nasce com dois governadores, dois senadores e 57 deputados, i.e., a terceira maior bancada da Câmara), do plebiscito para a eventual divisão do Estado do Pará (e possível criação de Tapajós e Carajás, hipótese entretanto rejeitada) ou da “maior taxa de juro do mundo” (matéria a merecer maior reflexão).
Alegremente, o Brasil aproveita a “revolução chinesa” no Continente (em 2011, a China já foi o principal parceiro comercial brasileiro), prospecta petróleo, multinacionaliza empresas, recupera emigrantes, prepara Jogos Olímpicos e Mundial de Futebol… E nada afecta a popularidade da sua nova “Presidenta”, cujo índice de aprovação excede o de Lula ou FHC em um ano de mandato (72% em Dezembro) – bem esteve Romero Britto ao querer dar a conhecer a eleita ao público americano (ver imagem da obra que o artista pernambucano publicou em anúncio de 20 mil dólares no “New York Times Magazine”): “a búlgara” libertou-se com uma facilidade imprevisível de uma tutela que quase todos prognosticavam prolongada (ver uma das muitas ilustrações, esta de Simanca em “A Tarde”, que iam nesse sentido ao tempo das eleições de Outubro de 2010)…
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
NOTÍCIAS DAS AMÉRICAS (1)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário