No artigo do Público emerge um gráfico (construído em torno do mais popular indicador de desigualdade, o coeficiente de GINI), construído em torno de dados disponibilizados pelo PORDATA, que pretende ilustrar o argumento principal que a austeridade atual e futura vai inverter o padrão de diminuição da desigualdade observado ao longo da década até à incidência do resgate financeiro. Compreende-se que o assunto tenha impacto, sobretudo quando pode fazer-se corresponder a cada um dos períodos diferentes legislaturas políticas.
(Aqui reproduzido da publicação INE coordenada pela Profª Manuela Silva)
De facto, pelo menos de meados dos anos 90 aos últimos anos da década de 2000, a desigualdade média em Portugal desce moderadamente, sobretudo no período de 1994 a 2000, embora Portugal apresente sempre no contexto da União Europeia e da OCDE um valor comparativo de significativa maior desigualdade. Mas o que é mais relevante assinalar é que são as melhorias observadas nos grupos mais pobres, designadamente os 20% mais pobres que explicam mais consistentemente a redução média da desigualdade. Pelo contrário, nos rendimentos mais elevados a situação é de agravamento ou estagnação da desigualdade.
Aliás, trabalhando alguns dados estatísticos disponibilizados pela mais recente publicação da OCDE (Divided We Stand, 2011), que apresenta para alguns indicadores algumas séries mais longas, conclui-se, por exemplo, que a proporção de rendimento apropriada pelos 10% mais ricos tem um comportamento claramente crescente, estabilizando em alguns sub-períodos.
É neste contexto que o efeito penalizador da austeridade e sobretudo a queda indiscriminada das formas de proteção social que lhe vêm associadas (largamente responsáveis pela já assinalada melhoria anteriormente observada nos 20% mais pobres) tenderão a inverter o padrão médio de desigualdade e modificar de novo o comportamento dos diferentes grupos de rendimento.
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