sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

REGRESSO AO ESPAÇO DE UMA AULA


A convite do curso de Doutoramento em Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ontem foi tempo de regresso ao espaço de uma aula, dois anos depois de interrupção da atividade letiva na FEP.
Mas também uma excelente oportunidade de testar algumas ideias que têm atravessado a minha participação neste blogue, designadamente o tema dos limites do planeamento e das políticas públicas na promoção dos processos de desenvolvimento. Entre essas ideias, tive oportunidade de desenvolver a abordagem à atual crise da economia e da sociedade portuguesas, sublinhando a complexa imbricação entre a dimensão interna (portuguesa) dessa crise e a dimensão internacional da mesma, ou seja, a não resolvida crise dos rumos da globalização e a inconsequente abordagem à Grande Recessão iniciada em 2008.
Assumindo uma perspetiva do tempo longo e dos ciclos de longa duração que alguns historiadores económicos de ascendência evolucionista têm acomodado no conceito de “paradigma técnico-económico”, discuti a possibilidade da atual crise global do capitalismo estar a coincidir com o declínio do paradigma das tecnologias de informação e comunicação, anunciando um novo ciclo cujos contornos não somos ainda capazes de identificar com nitidez. A evolução avassaladora da componente estrutural do desemprego pode anunciar essa possibilidade, sugerindo não serem ainda claros os setores que irão assegurar no futuro a dinâmica de criação de emprego. Se esta vier a revelar-se uma hipótese de trabalho reafirmada pela história, então seria mais fácil compreender as incertezas e os erros de abordagem à situação atual. Viver o coração das transformações nem sempre nos proporciona a distância e lucidez suficientes para desenhar as propostas de intervenção mais consequentes.
O amigo Professor José Madureira Pinto que teve a amabilidade de me escutar (estou convicto que será no futuro próximo um dos animadores deste blogue) colocou em sede de discussão uma sugestiva questão: admitindo que estamos a viver uma transformação de largo espectro que anunciará um novo paradigma técnico-económico, será que o sistema financeiro não deve ser profundamente transformado de modo a poder desenvolver uma relação mais harmoniosa com o novo paradigma?
Questão extremamente pertinente. Em meu entender, a sofisticação assumida pelo sistema financeiro só foi possível porque foi acomodada e potenciada pelo paradigma das tecnologias de informação e comunicação. Mas, tal como um robot que se autonomiza e liberta do programa de inteligência artificial que o criou, a deriva do sistema financeiro libertou-o de uma convivência harmoniosa com a dimensão económica e política do paradigma, gerando situações de instabilidade incompatíveis com o normal funcionamento dos mercados. E foi por isso o epicentro de todos os males que desencadearam a Grande Recessão. Nesse contexto e após uma certa destruição criadora (que é discutível que tenha acontecido em pleno com a eliminação de todos os desvarios), o eventual nascimento de um novo paradigma técnico-económico terá necessariamente que fazer retornar o sistema financeiro ao papel que lhe está reservado de assegurar uma adequada fluidez dos recursos de capital por toda a economia.

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