Mas também uma excelente oportunidade de testar algumas ideias que têm atravessado a minha participação neste blogue, designadamente o tema dos limites do planeamento e das políticas públicas na promoção dos processos de desenvolvimento. Entre essas ideias, tive oportunidade de desenvolver a abordagem à atual crise da economia e da sociedade portuguesas, sublinhando a complexa imbricação entre a dimensão interna (portuguesa) dessa crise e a dimensão internacional da mesma, ou seja, a não resolvida crise dos rumos da globalização e a inconsequente abordagem à Grande Recessão iniciada em 2008.
Assumindo uma perspetiva do tempo longo e dos ciclos de longa duração que alguns historiadores económicos de ascendência evolucionista têm acomodado no conceito de “paradigma técnico-económico”, discuti a possibilidade da atual crise global do capitalismo estar a coincidir com o declínio do paradigma das tecnologias de informação e comunicação, anunciando um novo ciclo cujos contornos não somos ainda capazes de identificar com nitidez. A evolução avassaladora da componente estrutural do desemprego pode anunciar essa possibilidade, sugerindo não serem ainda claros os setores que irão assegurar no futuro a dinâmica de criação de emprego. Se esta vier a revelar-se uma hipótese de trabalho reafirmada pela história, então seria mais fácil compreender as incertezas e os erros de abordagem à situação atual. Viver o coração das transformações nem sempre nos proporciona a distância e lucidez suficientes para desenhar as propostas de intervenção mais consequentes.
O amigo Professor José Madureira Pinto que teve a amabilidade de me escutar (estou convicto que será no futuro próximo um dos animadores deste blogue) colocou em sede de discussão uma sugestiva questão: admitindo que estamos a viver uma transformação de largo espectro que anunciará um novo paradigma técnico-económico, será que o sistema financeiro não deve ser profundamente transformado de modo a poder desenvolver uma relação mais harmoniosa com o novo paradigma?
Questão extremamente pertinente. Em meu entender, a sofisticação assumida pelo sistema financeiro só foi possível porque foi acomodada e potenciada pelo paradigma das tecnologias de informação e comunicação. Mas, tal como um robot que se autonomiza e liberta do programa de inteligência artificial que o criou, a deriva do sistema financeiro libertou-o de uma convivência harmoniosa com a dimensão económica e política do paradigma, gerando situações de instabilidade incompatíveis com o normal funcionamento dos mercados. E foi por isso o epicentro de todos os males que desencadearam a Grande Recessão. Nesse contexto e após uma certa destruição criadora (que é discutível que tenha acontecido em pleno com a eliminação de todos os desvarios), o eventual nascimento de um novo paradigma técnico-económico terá necessariamente que fazer retornar o sistema financeiro ao papel que lhe está reservado de assegurar uma adequada fluidez dos recursos de capital por toda a economia.
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