quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

UMA EDIÇÃO CONTURBADA


No âmbito das comemorações do centenário da República, realizou-se no Porto em finais de 2010 (18 e 19 de Novembro), um colóquio centrado no tema DESIGUALDADES SOCIAIS: OS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM QUESTÃO, sob a estimulante, inteligente e empenhada coordenação do meu amigo e colega Professor José Madureira Pinto. Por amabilidade deste, apresentei nesse colóquio um trabalho intitulado “A sustentabilidade social dos processos de crescimento económico: simples restrição ou equação global a resolver?” que antecipava algumas das ideias centrais que tenho explorado e desenvolvido neste blogue. Tive a honra de partilhar a reflexão aí apresentada com vozes bem mais autorizadas do que a minha: António Esteves, Isabel Guerra, João Ferreira de Almeida, João Cravinho, João Rodrigues, Presidente Jorge Sampaio, Manuela Silva, Raymond Torres (Diretor do Instituto Internacional dos Estudos Laborais da OIT), Robert Castel, Virgílio Borges Pereira e Xavier Timbeaud.
Dado o contexto temporal em que a iniciativa ocorreu e considerando o défice de debate de ideias em torno das relações entre a crise do modelo de crescimento português e o continuado agravamento da desigualdade, com forte impacto na perceção e na realidade da coesão social, seria de esperar melhores condições de difusão do conhecimento aí produzido. A iniciativa do Dr. Artur Santos Silva (que quis inscrever na matriz das comemorações a perspetiva de futuro) e o empenho entusiasta da coordenação do Professor Madureira Pinto mereciam melhores condições de divulgação e disseminação. Já o próprio colóquio teve uma divulgação bastante limitada (visível na reduzida massa de público presente nas duas sessões realizadas. Mas os problemas de disseminação dos resultados do debate não ficaram por aí. A elaboração dos textos apresentados pelos autores mereceu a atribuição de um valor pecuniário e foi prometida a edição de obra coletiva.
A edição foi conturbada e creio que não foi devida aos naturais atrasos de envio dos autores. Por informação diligente que o coordenador da obra conseguiu obter, terá sido editada pela CALEIDOSCÓPIO, os exemplares dos autores terão estado perdidos algures num recanto da Universidade Nova de Lisboa (vá la saber-se porquê) e ainda por empenho do Professor Madureira Pinto lá se conseguiu chegar via internet à evidência da sua publicação (capa existe, pelo menos e acompanha este post). O fechamento de contas e da própria estrutura organizativa das comemorações não terá facilitado o processo. Estou em crer que tudo isto se passou à margem da diligente Presidência das comemorações. Algum funcionário (a) fantasma terá sido insensível à relevância do tema e da sua disseminação.
Mas a edição conturbada não pode deixar de me inspirar algumas observações:
  • Sem menosprezo pela editora, pergunto-me, edições desta natureza não deveriam ser obra da Imprensa Nacional?
  • Tendo a iniciativa envolvido a utilização de dinheiros públicos não seria de assegurar melhores condições de difusão para o conhecimento que a sua aplicação tornou possível?

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