domingo, 15 de janeiro de 2012

CALÇADO: RESILIÊNCIA SUSTENTÁVEL?


Já aqui mencionei que o setor do calçado constitui um exemplo das mudanças observadas na especialização internacional portuguesa mais tradicional, ao qual não é estranha a sua organização sob a forma de cluster. Embora de configuração ainda imperfeita, o cluster tem beneficiado de uma orientação estratégica permanente assegurada pela sua representativa associação empresarial (APICCAPS), compensando aliás as oscilações ao longo do tempo da política económica.
Os primeiros trimestres de 2011 confirmaram no plano do ritmo de crescimento das exportações essa mudança e evidenciaram uma resiliência apreciável de presença nos nossos mercados mais representativos, apesar da ameaça asiática “low cost” e do peso da intermediação holandesa e belga nesse tipo de produtos.
A APICCAPS tem editado regularmente uma excelente análise de conjuntura trimestral (Foot Grafia dinâmica do setor do calçado). Através desta publicação tem sido possível confirmar a presença de empresários mais preocupados em termos de competitividade com o preço ou dificuldades de abastecimento de matérias-primas e com o volume de encomendas (nacionais e estrangeiras) do que com problemas salariais.
As previsões que constam da edição correspondente ao 2º trimestre de 2011 permitem antecipar uma desaceleração do crescimento das exportações para o último trimestre desse ano e muito provavelmente uma variação negativa das mesmas para o ano de 2012. Como seria previsível, as perspetivas recessivas na zona euro e na União Europeia em geral tenderão a penalizar um setor predominantemente transacionável e orientado para os mercados europeus. O desafio colocado situar-se-á entre a resistência nos mercados francês e alemão e a mais arriscada opção de apostas em novos mercados.
Os números da previsão APICCAPS ilustram o que parece evidente na situação atual europeia e que alguns continuam a menosprezar. A incapacidade de combater eficaz e duradouramente a situação globalmente recessiva da União Europeia tenderá a comprometer a resiliência exportadora notável de um setor transacionável, afinal um dos únicos e relevantes fatores de crescimento económico que a economia portuguesa dispõe nas baias definidas pelo resgate financeiro.

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