Vários economistas que têm seguido de perto esta questão, Bradford DeLong e P. Krugman, por exemplo, dedicaram esta semana reflexão à evidência de mais um gráfico que nos interpela. É que os números respeitantes à economia britânica anunciam que o número de meses de recuperação do nível de atividade imediatamente antes do início da recessão ultrapassou já o que podemos associar à Grande Depressão de 1929-30. Os 48 meses estão aí e a economia britânica está longe ainda de se aproximar do já mencionado pico anterior. Incisivo como sempre, Bradford DeLong avança que: “Em menos de um ano, se as previsões correntes estiverem corretas, a depressão Cameron-Osborne não será apenas a pior depressão na Grã-Bretanha desde a Grande Depressão, mas provavelmente a pior depressão de sempre”.
Esta evidência dá que pensar sobretudo porque o Reino Unido tem autonomia monetária e uma taxa de câmbio flexível. Não sofre por isso do síndroma da zona euro e disso tem feito um cavalo de batalha político, arriscando mesmo a sua marginalização face ao centro da decisão na União Europeia. A sua taxa nominal de juro a dez anos, apenas ligeiramente superior a 2%, apontaria para um aparente clima ideal para testar o já referido mito da austeridade expansionista. Como DeLong assinala, o investimento privado e as exportações deveriam, segundo o mito, produzir uma recuperação muito mais efetiva do ritmo de crescimento.
Porque será?
A opção seguida pelo governo de Cameron-Osborne de usar a banca como o grande mecanismo de injeção de liquidez na economia pode estar a revelar-se um flop e a não impactar a economia real.
Mas seguramente que a política de busca do crescimento por via da austeridade, glosando até à exaustão o velho argumento de que os recursos públicos tendem a destruir ou a inibir investimento privado (o chamado crowding-out) parece não estar, nem num ambiente aparentemente favorável, a produzir efeitos. A chamada austeridade parece não ser a chave da confiança que os mercados necessitam para que o investimento privado possa recuperar.
Duas hipóteses de explicação são possíveis:
• A abordagem da austeridade está a prolongar uma grande recessão que poderia ter sido melhor controlada se melhor e mais cedo compreendida e que exigiria uma política económica de raiz contrária;
• A economia mundial estará num momento de viragem do seu tempo longo e por isso tarda em encontrar o seu rumo de crescimento.
E podem não ser mutuamente exclusivas.
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