sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MAIS EVIDÊNCIAS DO MITO DA AUSTERIDADE EXPANSIONISTA


O National Institut of Economic and Social Research (NIESR) (UK) é um dos mais respeitados centros de investigação independentes em matéria económica, ocupando no Reino Unido uma posição similar à do National Bureau of Economic Research dos Estados Unidos. No registo de trazermos para este blogue elementos credíveis de investigação que nos permitam seguir as diferentes manifestações do já aqui mencionado mito da austeridade expansionista, vale a pena destacar a análise que o NIESR tem dedicado à atual recessão internacional. Fá-lo naturalmente seguindo a evolução da economia britânica.


O gráfico perturbador que o NIESR lança para o debate compara, a partir do início da recessão e para diferentes períodos, o número de meses que a economia demora a recuperar o nível mais alto de atividade que precedeu o referido início da recessão. Embora esta análise deva ser completada com números respeitantes à intensidade (e não duração) do processo recessivo (por exemplo, o custo social global do desemprego), o método utilizado e a sua visualização permitem uma primeira aproximação comparativa aos diferentes períodos recessivos considerados. Sobretudo, porque a análise não integra apenas as recessões mais modernas, isto é, em tempos de uma aparente maior capacidade de domesticação interna do ciclo económico, abrangendo também a Grande Depressão de 1920-30.
Vários economistas que têm seguido de perto esta questão, Bradford DeLong e P. Krugman, por exemplo, dedicaram esta semana reflexão à evidência de mais um gráfico que nos interpela. É que os números respeitantes à economia britânica anunciam que o número de meses de recuperação do nível de atividade imediatamente antes do início da recessão ultrapassou já o que podemos associar à Grande Depressão de 1929-30. Os 48 meses estão aí e a economia britânica está longe ainda de se aproximar do já mencionado pico anterior. Incisivo como sempre, Bradford DeLong avança que: “Em menos de um ano, se as previsões correntes estiverem corretas, a depressão Cameron-Osborne não será apenas a pior depressão na Grã-Bretanha desde a Grande Depressão, mas provavelmente a pior depressão de sempre”.
Esta evidência dá que pensar sobretudo porque o Reino Unido tem autonomia monetária e uma taxa de câmbio flexível. Não sofre por isso do síndroma da zona euro e disso tem feito um cavalo de batalha político, arriscando mesmo a sua marginalização face ao centro da decisão na União Europeia. A sua taxa nominal de juro a dez anos, apenas ligeiramente superior a 2%, apontaria para um aparente clima ideal para testar o já referido mito da austeridade expansionista. Como DeLong assinala, o investimento privado e as exportações deveriam, segundo o mito, produzir uma recuperação muito mais efetiva do ritmo de crescimento.
Porque será?
A opção seguida pelo governo de Cameron-Osborne de usar a banca como o grande mecanismo de injeção de liquidez na economia pode estar a revelar-se um flop e a não impactar a economia real.
Mas seguramente que a política de busca do crescimento por via da austeridade, glosando até à exaustão o velho argumento de que os recursos públicos tendem a destruir ou a inibir investimento privado (o chamado crowding-out) parece não estar, nem num ambiente aparentemente favorável, a produzir efeitos. A chamada austeridade parece não ser a chave da confiança que os mercados necessitam para que o investimento privado possa recuperar.
Duas hipóteses de explicação são possíveis:
•    A abordagem da austeridade está a prolongar uma grande recessão que poderia ter sido melhor controlada se melhor e mais cedo compreendida e que exigiria uma política económica de raiz contrária;
•    A economia mundial estará num momento de viragem do seu tempo longo e por isso tarda em encontrar o seu rumo de crescimento.
E podem não ser mutuamente exclusivas.

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