sábado, 28 de janeiro de 2012

PAROLE, PAROLE

“A minha visão é a União política” é talvez a frase que mais marca (e surpreende) na entrevista de Angela Merkel (acima retratada por Sciammarella no “El País”) ao suplemento Europa, realizado em comum por seis jornais europeus (“Suddeutsche Zeitung”, “Le Monde”, “The Guardian”, “La Stampa”, “El País” e “Gazeta Wyborcza”). A chanceler alemã vai mesmo a algum detalhe de arquitetura institucional: “Ao longo de um longo processo, nós transferiremos mais competências para a Comissão, que funcionará então como um governo europeu para as competências europeias. Isso implica um parlamento forte. O Conselho que reúne os chefes de governo formará, por assim dizer, a segunda câmara. Para terminar, nós temos o Tribunal Europeu de Justiça como tribunal supremo. Essa poderia ser a configuração futura da União Política europeia, dentro de um certo tempo, como eu dizia, e após numerosas etapas.”

A entrevista é notável ao conseguir a proeza de sugerir simultaneamente uma Merkel que arrisca uma ideia de futuro e uma Merkel que não deixa evidência de qualquer comprometimento efetivo de mudança. Sublinho este aspeto de uma entrevista claramente calculista e calculada: nada de reforço do papel do BCE, nada de “eurobonds”, nada de solidariedade ativa, pouco de FEEF, pouco de fundos estruturais, pouco de crescimento, muito de disciplina, muito de austeridade e contenção reformadora, muito de “chacun pour soi”.

Atentas as declarações, atitudes e ações dos últimos dois anos, entre gaffes e frases infelizes, hesitações e navegações à vista, teimosias e prepotências – e atento, ainda, o exemplo potencialmente prenunciador de Sarkozy –, tendo a acreditar que Merkel mudou de assessoria de imprensa. E nada me leva a alterar a versão, simultaneamente estratégica (para uns) e estreita (para outros), de uma “Europa alemã” (post de 14 de Outubro de 2011)…

1 comentário:

  1. O que eu sei enquanto contribuinte é que queria que a Madeira pagasse aquilo que deve ao Continente. E gostaria que uma agência qualquer me dissesse que estava a emprestar a caloteiros para votar num partido que dissesse que não emprestaria dinheiro dos contribuintes aos caloteiros.

    Por uma razão muito simples: se o nosso dinheiro de contribuintes do continente não fosse para o forrobodó do gungunhana, esse nosso dinheiro dos contribuintes poderia servir para diminuir as desigualdades e não para alimentar obras e festas de uma oligarquia despesista e populista.

    E é por essa mesma razão que acho que ele deve pagar-nos tudo o que nos deve.

    Se o raciocínio se pode aplicar por analogia à Europa o problema não é meu.

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