sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

EDP: TODOS CLAMAM POR ESTRATÉGIA



Os resultados do processo de privatização (leia-se de venda de parte substancial da posição que o Estado detinha na empresa) despertaram uma ampla diversidade de reacções: de simples lágrimas de crocodilo pela privatização ao reconhecimento da transparência do processo de tudo houve um pouco.
 Em primeiro lugar, levantou-se algum coro de preocupações em termos de segurança nacional. Alienar praticamente o controlo da empresa a uma empresa estatal chinesa, “aqui d’el-Rey” estaremos dependentes de um poder potencialmente hostil. O curioso e por isso são lágrimas de crocodilo é que praticamente ninguém com esta opinião criticou antes o processo de privatizações. O que se foi ouvindo foi apenas o “vai ser uma venda ao desbarato” dado o momento em que se encontra a economia portuguesa e o contexto mundial. Nenhuma preocupação ex-ante por questões de segurança nacional emergiu. Ora, quem privatiza “utilities” como a energia e a água que se cuide.
 Por outro lado, depois da União Europeia ou mais propriamente o eixo Merkosy andarem a mendigar o concurso da poupança chinesa para reforçar o Instrumento de Europeu de Estabilidade Financeira, aparentemente sem êxito e depois do Governo Sócrates por também os olhos em bico para atrair poupança chinesa à dívida pública portuguesa, não percebo tanta surpresa. Afinal, a proposta chinesa faz jus ao que se vai pressentindo para o futuro: a capacidade de poupança das economias emergentes projecta-se como a grande fonte de financiamento internacional. E com a economia americana a balouçar, a poupança chinesa não se fixa apenas nos “Treasuries” americanos. Além disso, é claramente a melhor proposta financeira. Pudera.
 Depois, clamou-se por falta de estratégia. Também não percebo tanta surpresa: não há uma linha que se preze de posicionamento estratégico internacional, nem sequer sobre a questão europeia, no programa de Governo. O Ministro Álvaro pesca à linha e com tudo o que lhe aparece à mão para fazer de cana. Apostar nas economias emergentes, valorar a posição portuguesa na União Europeia ou concretizar a aproximação ao Brasil para um eixo atlântico são opções sobre as quais nem uma palavra é dada pela chamada diplomacia económica.
 A meu ver coerentemente com esta pesca à linha, o Governo usou a única arma justificativa que podia de facto invocar: transparência do processo e claramente a proposta que proporciona mais encaixe, contrariando a ideia da “venda ao desbarato”. Questões de geoestratégia? É profundidade demasiada para quem está abrigado (até quando?) no memorando da Troika.

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