Os resultados
do processo de privatização (leia-se de venda de parte substancial da posição
que o Estado detinha na empresa) despertaram uma ampla diversidade de reacções:
de simples lágrimas de crocodilo pela privatização ao reconhecimento da
transparência do processo de tudo houve um pouco.
Em primeiro
lugar, levantou-se algum coro de preocupações em termos de segurança nacional. Alienar
praticamente o controlo da empresa a uma empresa estatal chinesa, “aqui d’el-Rey”
estaremos dependentes de um poder potencialmente hostil. O curioso e por isso são
lágrimas de crocodilo é que praticamente ninguém com esta opinião criticou
antes o processo de privatizações. O que se foi ouvindo foi apenas o “vai ser
uma venda ao desbarato” dado o momento em que se encontra a economia portuguesa
e o contexto mundial. Nenhuma preocupação ex-ante por questões de segurança
nacional emergiu. Ora, quem privatiza “utilities” como a energia e a água que
se cuide.
Por outro lado,
depois da União Europeia ou mais propriamente o eixo Merkosy andarem a mendigar
o concurso da poupança chinesa para reforçar o Instrumento de Europeu de
Estabilidade Financeira, aparentemente sem êxito e depois do Governo Sócrates
por também os olhos em bico para atrair poupança chinesa à dívida pública portuguesa,
não percebo tanta surpresa. Afinal, a proposta chinesa faz jus ao que se vai
pressentindo para o futuro: a capacidade de poupança das economias emergentes
projecta-se como a grande fonte de financiamento internacional. E com a
economia americana a balouçar, a poupança chinesa não se fixa apenas nos “Treasuries”
americanos. Além disso, é claramente a melhor proposta financeira. Pudera.
Depois, clamou-se
por falta de estratégia. Também não percebo tanta surpresa: não há uma linha
que se preze de posicionamento estratégico internacional, nem sequer sobre a
questão europeia, no programa de Governo. O Ministro Álvaro pesca à linha e com
tudo o que lhe aparece à mão para fazer de cana. Apostar nas economias
emergentes, valorar a posição portuguesa na União Europeia ou concretizar a aproximação
ao Brasil para um eixo atlântico são opções sobre as quais nem uma palavra é
dada pela chamada diplomacia económica.
A meu ver
coerentemente com esta pesca à linha, o Governo usou a única arma justificativa
que podia de facto invocar: transparência do processo e claramente a proposta
que proporciona mais encaixe, contrariando a ideia da “venda ao desbarato”. Questões
de geoestratégia? É profundidade demasiada para quem está abrigado (até
quando?) no memorando da Troika.
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