sábado, 17 de dezembro de 2011

MARQUÊS DA DEMOLIÇÃO


O Presidente Rui Rio tem certamente o apoio de uma fracção muito significativa da população do Porto para a demolição das torres do Aleixo. Disse ao que vinha e fez desta demolição uma opção programática. Na última campanha eleitoral, o tema foi objecto de ampla discussão. Não se tratou de uma opção escondida e a votação obtida pode considerar-se um escrutínio favorável para esta decisão, embora seja controversa e houvesse outras alternativas de abordagem à complexidade do Aleixo. Pode mesmo dizer-se que o incremento dos sentimentos securitários gerados pela crise actual até poderão ter alargado a margem de apoio para a controversa demolição.
Essa validação não está em causa. Não são também as alternativas possíveis que determinam este comentário. O que me chocou foi a pose da decisão de assistir ao mediático acto, no meio do rio Douro (por pouco que não era na margem em Vila Nova de Gaia, o que também poderia ser simbólico), numa embarcação de turismo de um conhecido empresário. Aparentemente, um acto festivo. Não sei se terá havido champagne e desconheço que convidados terão assistido à implosão.
Já tínhamos visto o Dr. Alberto João, em plena intempérie de Fevereiro no Funchal, de dedo em riste a traçar viadutos, pontões, túneis e outras infra-estruturas. Uma espécie de Marquês do Funchal.
Agora, a pose é talvez mais contida, mas o referido enquadramento do ponto de visão escolhido e a sua mediatização lembram mais um Marquês da demolição. Os tempos não estão para construção, tudo indica que o ritmo das novas infra-estruturas irá esfriar. Haverá espaço para um Marquês da reconstrução, reabilitação ou regeneração urbanas? Talvez seja menos mediatizável, teria de ser paulatina, persistente, visionária. Afinal a história nem sempre nos proporciona os intérpretes que desejaríamos.

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