O Presidente Rui Rio tem certamente o apoio de uma fracção
muito significativa da população do Porto para a demolição das torres do
Aleixo. Disse ao que vinha e fez desta demolição uma opção programática. Na última
campanha eleitoral, o tema foi objecto de ampla discussão. Não se tratou de uma
opção escondida e a votação obtida pode considerar-se um escrutínio favorável
para esta decisão, embora seja controversa e houvesse outras alternativas de
abordagem à complexidade do Aleixo. Pode mesmo dizer-se que o incremento dos
sentimentos securitários gerados pela crise actual até poderão ter alargado a
margem de apoio para a controversa demolição.
Essa validação não está em causa. Não são também as
alternativas possíveis que determinam este comentário. O que me chocou foi a
pose da decisão de assistir ao mediático acto, no meio do rio Douro (por pouco
que não era na margem em Vila Nova de Gaia, o que também poderia ser simbólico),
numa embarcação de turismo de um conhecido empresário. Aparentemente, um acto
festivo. Não sei se terá havido champagne e desconheço que convidados terão
assistido à implosão.
Já tínhamos visto o Dr. Alberto João, em plena intempérie
de Fevereiro no Funchal, de dedo em riste a traçar viadutos, pontões, túneis e
outras infra-estruturas. Uma espécie de Marquês do Funchal.
Agora, a pose é talvez mais contida, mas o referido
enquadramento do ponto de visão escolhido e a sua mediatização lembram mais um
Marquês da demolição. Os tempos não estão para construção, tudo indica que o
ritmo das novas infra-estruturas irá esfriar. Haverá espaço para um Marquês da
reconstrução, reabilitação ou regeneração urbanas? Talvez seja menos mediatizável,
teria de ser paulatina, persistente, visionária. Afinal a história nem sempre
nos proporciona os intérpretes que desejaríamos.
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