quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

HORAS DE TRABALHO


A debilidade do memorando da Troika em termos de medidas de apoio ao crescimento e à competitividade, que tenho designado de “retórica do crescimento” está na base da inconsequente proposta de aumento de meia hora de trabalho. Depois da trapalhada da taxa social única, que acabou por cair, por ausência de defensores robustos da medida e pela indeterminação dos resultados esperados (com custos bem determinados sobre a estabilidade da segurança social), a medida da meia hora é uma solução de recurso. Com oposição de sindicatos e quase indiferença do sector empresarial, é uma medida para tentar preencher um vazio de medidas do memorando de resgate financeiro.

Pior do que isso é uma medida com sinais fortemente errados quanto aos padrões de modelo de crescimento que a economia portuguesa deve procurar trilhar. Parece voltar a onda do crescimento extensivo, claramente contraditória com políticas públicas que visam facilitar a passagem a uma nova faixa de especialização e com a tímida tentativa de estruturar um padrão de atracção de investimento directo estrangeiro compatível com esse “upgrading” do perfil de especialização.

Se tivermos em conta o padrão de horas de trabalho semanais no seio dos 27, considerando as horas de trabalho total e as horas de trabalho que correspondem a vínculos a tempo inteiro, é possível observar que Portugal apresenta valores já muito elevados de horário semanal. Aliás, os números evidenciam como é distorcido a imagem alimentada sobre as economias do sul.

Por exemplo, no trabalho a tempo inteiro, a Grécia partilha com a Áustria o valor mais elevado (43,7 horas), apresentando Portugal o quarto valor, logo a seguir ao Reino Unido (42,3 contra 42,7 do Reino Unido). No emprego total, que envolve modalidades mais atípicas de vínculo laboral, a Grécia apresenta o valor mais elevado (42,2 horas), apresentando aqui Portugal um valor mais baixo (39,1).

Os Portugueses (e os Gregos) não trabalham pouco, trabalham muito. Fazem-no, porém, com baixos padrões organizacionais e isso, a par da inércia das baixas qualificações, explica os baixos valores da produtividade.













(Clique no gráfico para ter uma leitura mais legível do mesmo; Fonte: Labour Force Survey, Eurostat)

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