A debilidade do memorando da Troika em termos de medidas
de apoio ao crescimento e à competitividade, que tenho designado de “retórica
do crescimento” está na base da inconsequente proposta de aumento de meia hora
de trabalho. Depois da trapalhada da taxa social única, que acabou por cair,
por ausência de defensores robustos da medida e pela indeterminação dos
resultados esperados (com custos bem determinados sobre a estabilidade da
segurança social), a medida da meia hora é uma solução de recurso. Com oposição
de sindicatos e quase indiferença do sector empresarial, é uma medida para
tentar preencher um vazio de medidas do memorando de resgate financeiro.
Pior do que isso é uma medida com sinais fortemente
errados quanto aos padrões de modelo de crescimento que a economia portuguesa
deve procurar trilhar. Parece voltar a onda do crescimento extensivo,
claramente contraditória com políticas públicas que visam facilitar a passagem
a uma nova faixa de especialização e com a tímida tentativa de estruturar um
padrão de atracção de investimento directo estrangeiro compatível com esse “upgrading” do perfil de especialização.
Se tivermos em conta o padrão de horas de trabalho
semanais no seio dos 27, considerando as horas de trabalho total e as horas de
trabalho que correspondem a vínculos a tempo inteiro, é possível observar que
Portugal apresenta valores já muito elevados de horário semanal. Aliás, os números
evidenciam como é distorcido a imagem alimentada sobre as economias do sul.
Por exemplo, no trabalho a tempo inteiro, a Grécia partilha
com a Áustria o valor mais elevado (43,7 horas), apresentando Portugal o quarto
valor, logo a seguir ao Reino Unido (42,3 contra 42,7 do Reino Unido). No
emprego total, que envolve modalidades mais atípicas de vínculo laboral, a Grécia
apresenta o valor mais elevado (42,2 horas), apresentando aqui Portugal um
valor mais baixo (39,1).
Os Portugueses (e os Gregos) não trabalham pouco,
trabalham muito. Fazem-no, porém, com baixos padrões organizacionais e isso, a
par da inércia das baixas qualificações, explica os baixos valores da
produtividade.
(Clique no gráfico para ter uma leitura mais legível do mesmo; Fonte: Labour Force Survey, Eurostat)
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