(Graças aos bons ofícios jornalísticos do El Español e do
seu destemido Diretor Pedro J. Ramírez, vai-se clarificando a queda do pedestal
que a transição democrática espanhola concedeu ao ex-monarca Juan Carlos. Compreendemos agora que as habilidades de um dos seus genros, uma glória
do andebol basco e espanhol, teriam no monarca um exemplo de boa prática e
assim se demonstra que a atração do vil metal, do sexo (há sempre uma Corinna a
pairar por aí) e do glamour pode tentar qualquer um. Só faltaria alguém sugerir
que tais habilidades foram socializadas nos seus tempos de permanência por
terras do Estoril e de Cascais.
Alinho com que os que pensam que a monarquia espanhola e neste caso o rei
Juan Carlos tiveram um papel relevante na transição democrática espanhola, defendendo
inclusivamente a jovem democracia de alguns ataques de que foi alvo. E não me
custa admitir que, embora tenha as minhas mais sérias reservas quanto à
permanência nestes tempos da instituição monarquia, Filipe VI tem tido também
um comportamento digno de registo neste período conturbado da vida política em
Espanha.
Mas isso não significa que não siga com atenção as sucessivas revelações
que têm emergido quanto ao comportamento mais do que suspeito do ex-monarca, do
tal que se revelou importante na transição democrática espanhola. E não estamos
apenas a falar dos desvarios que começaram a atravessar a Casa Real espanhola
antes da passagem de testemunho de Juan Carlos ao atual Filipe VI.
Fazendo jus à folha curricular de outros monarcas em matéria de divagações
fora do casamento, a vida amorosa de Juan Carlos era do conhecimento geral da
imprensa espanhola, à qual o caso da caçada aos elefantes deu alguma pitada de
mais interesse. Mas até aí a situação não terá ultrapassado os limites das
linhas vermelhas do respeito pelas regras de funcionamento da democracia.
Mas tudo isso é ultrapassado pelas mais recentes revelações em torno de
movimentações do ex-monarca, as quais, embora apimentadas pela sua relação com a
“socialite” Corinna, só podem ser classificadas com uma palavra “corrupção”,
enganando o Estado e a lei de forma sucessiva, sistemática e premeditada.
O artigo de Pedro Ramírez (link aqui) é demolidor e, habituado ao teor rigoroso de
outras revelações feitas pelo jornalista acerca dos desvios e desvarios da
democracia espanhola, não tenho qualquer dúvida em admitir que refletem a
verdade nua e crua dos factos.
O comportamento de Juan Carlos é o caminho mais direto para o acentuar das
interrogações quanto ao sentido da monarquia nos tempos de hoje. Dá que pensar
como é a própria democracia a gerar e acolher estas formas de desvio, mas
alguém imaginaria que a própria monarquia estaria a salvo das degenerescências
mais sórdidas? Bastariam uns dedos de conversa com a história para compreender
que a imunidade das linhagens face a tais degenerescências é pura ingenuidade.
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